quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Admirável desenho animado


Esses dias estava vendo Snoopy e senti saudade dos tempos de mulecote: os penhascos são apenas assovios e as armas não deixam maior dano do que uma poeira preta no rosto. Um mundo surreal onde o Pica-Pau, com sua estadunidense penagem, faz coisas inusitadas como ficar de ponta-cabeça ou aparecer em mais de um lugar ao mesmo tempo. Divertido isso, não? Ai penso de como os pequenos devem se encantar com isso e, por outro lado, o quanto esses desenhos são carregados de sentido. Mas a tudo isso, devemos muito à nossa TV que, desde que me dou por gente, reprisa o mesmo Pernalonga, Popeye, Michey, Pato-Donald e todos mais que você lembrar. Graças a essa repetição, hoje consigo penceber muitas coisas que, quando crianças, nos deixavam fascinados.
Os desenhos animados, em dias que correm, veiculam outros planos ideológicos: esses dias, na fila do mercado, vi um menininho (menininho mesmo, pois devia ter 4 anos) vestido dos pés à cabeça do tal Ben 10. Depois, conheci um outro que de dez frases no auge de seus 3 anos de vida, 4 tinham ou 10 ou Ben no meio. Antigamente não tinhamos muito acesso a esse mundaréu de brinquedos e vestimentas licenciadas: ao invés disso, tinhamos o Jaspion, o Playmobil e suas intermináveis profissões (uma certa vez pensei: "o Playmobil imita a vida?"), um boneco dos "Comandos em Ação" e a cinquentona Barbie, firme em seu império, mas ocasionalmente abalado pelo poderio dos bebês bizzaros da Xuxa ou da Eliana - sem contar a interminável tiragem de bebês que choram, andam, patinam, etc, etc, etc). Antes se vendia elementos ideológicos oriundos da Guerra Fria, agora, sem ter o que combater, já que o capitalismo venceu(?), a mulecada compra o pacote ideológico da vida consumista, onde rosa é sinônimo de menina - onde devemos dar graças à ex-namorada do Ken, hoje, vendo seu reinado ser ameaçado por Polly - que tem site, desenho animado e, o melhor, um enorme shopping(!).

Mas para não ficar numa visão frakfurtiana da coisa, o desenho também subverte: o Homer com sua lata de Duff, Bob Esponja em seu mundo aquático ou os meninos politicamente incorretos do South Park. Se no mundo que nos configurou - o pós Segunda Guerra Mundial - o desenho animado era carregado da ideologia maniqueísta oriunda da Guerra Fria, nos dias de hoje, ele é posto cotidianamente nos aparelhos televisivos, assumindo diversos matizes, propostas e signos. Houve uma ampliação, tanto para faixas de desenvolvimento da criança quanto para vender produtos licenciados. Mundo confuso esse, não? Nessa contraditoriedade nos auges da economia de mercado, uma coisa é certa: os brinquedos, tanto os do camelô quanto os das lojas dos shoppings, foram fabricados por um anônimo chinês a 30 cents a peça. Tá tudo integrado: a grana, o mercado e a merda.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A modelo


O mundo fashion também pega busão. Outro dia, andando no coletivo, me deparei com uma figura um tanto, digamos, caricata: uma jovem modelo terrivelmente perdida sem saber o local de seu casting. Podemos dizer que ela destoava do ambiente barulhento e tulmutuado do transporte de massas. Com seu book em punhos, sua maquiagem para o dia e seus finíssimos saltinhos de cristal, ia a modelete a caminho de mais uma prova de roupas. Imaginei, pelas suas caras e bocas, o quanto deveria ser complicado lidar com um ser desse nipe: o fotógrafo tentando o melhor ângulo enquanto a estrela da vez aproveita seus minutos de vaidade para uma propaganda das lojas "ZYZ". Não devia ter mais que dezesseis anos, mas já predominava a garota fantástica que ela buscava em seu intimo.

Toca o telefone, voz de frescura:

- Aloooô, Pri? Tô chegando, é que me atrasei com a maquiagem...

Engraçado é que quando ela chegar em seu destino, com certeza, irão fazer novamente sua maquiagem conforme manda o figurino. Mas elas estão lá, todas "bonitinhas" e "cheirosinhas". Como diria a legítima música popular: "cada um no seu quadrado".
Acho chato essa assimetria de rostos. Olhei para a menininha (não sei aonde ela queria chegar, mas seus 1,60 m não eram disfarçados pelo saltinho de cristal) e notei o quanto seria árdua sua empreitada de ser famosa. Mas um inshigt me atingiu como um raio: quando ela chegar aos cinquentinha, lembrará com tristeza (igual a Liliam Cabral na novela do Maneco-de-bem-com-a-vida) os áureos tempos de modelete, e talvez, perceba que mais interessante seria canelar um papel de coadjunvante-rostinho-rosado nas noveletas da Record (ou, se der sorte, da Grande-Mãe-Globo-de-Televisão) do que se aventurar no famigerado mundo da moda. Como diria Jesus: "dai a César o que é de César" e que deus tenha piedade de todos nós.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O muro ou a liberdade televisionada

É curioso o modo como estão se dando as "comemorações" da Queda do Muro de Berlim, que hoje, 9 de novembro, completa vinte anos que o paredão de concreto construído pela RDA ruíu como que nem dominó. Vendo os notíciários, pelo menos aqui no Brasil, deparei-me com algumas frases de efeito dos jornalistas:

"Há 20 anos atrás caia o muro da intolerância para dar espaço para a liberdade" - Bom dia Brasil, Globo.

"O Muro simboliza o fim do terror e o começo de uma nova era" - Record Notícias, Record.

"A construção de um sonho de liberdade com a queda da barreira comunista" - Jornal do SBT, SBT.

"O Muro de Berlim caiu e marcou o fim do século XX" - Jornal da Cultura, TV Cultura.

Dentre essas e outras, fiquei com meus botões discutindo, martelando a cabeça com esses marcos, essas frases, esses gestos que denotam um pepino ruim de descascar. Que pepino é esse?
O pepino é uma extrema tendência de sinalizar aos leitores o único lado da história: triunfo do capitalismo sobre o socialismo, ou no que quiserem chamar esses sistemas de governo. Curioso também é a transformação de um "comunista comedor de criancinhas", segundo a propaganda estadunidense da Guerra Fria, em herói: Gorbachov. O homem da mancha preta na careca, hoje, transformou-se no defensor da "liberdade" e do diálogo. Mais curioso ainda é o modo como a mídia está pintando o quadro da Guerra Fria: segundo eles, ela só terminou por causa do fim do "comunismo" (como se para haver conflitos, não houvesse necessidade de ter dois lados brigando por interesses opostos).
É aí que o buraco é mais embaixo: comemora-se. A mídia comemora o triunfo da liberdade (ou do país que nos USA?) como sinônimo de paz e harmonia. Mais o quê? Vamos aos fatos:

1 - Ninguém tá falando porra nenhuma sobre o murão que Israel está construíndo em torno da Cisjordânia.

2 - Nem se fala do muro, econômico, imposto à Cuba pelos EUA até agora.

3 - Muito menos queremos saber da porrada de Afegãos que morrem todos os dias com a ocupação estadunidense naquele país, e Obama tá mandando mais gente pra lá. Se isso não for um muro, eu preciso rever meus conceitos de construção civil.

4 - Você acha que nos preocupamos com barreiras sociais que impomos nos semáforos das cidades aos meninos-querôs que tentam limpar o seu parabrisa?

5 - E o que falar dos bloqueios que existem nas relações humanas numa "modernidade tardia" tão egoísta e cheia de dedos? E não se fala mais nisso.

Poderia escrever alguns bons 95 tópicos, que nem o Lutero, mas isso aqui é um blog e, como diria os especialistas em comunicação, "menos é mais".
O que intriga não é rememorar um episódio que foi possível graças à vontade de milhares de pessoas que comemoravam como que num ano novo a derrubada de um muro que separava não só as pessoas, mas modos de vida, não. E muito menos que esse processo de unificação das Alemanhas tenha sido desencadeado por um porta-voz do partido comunista que estava de férias e, numa coletiva, em vez de anunciar a liberação gradual de vistos à Alemanha Ocidental, acabou, no final da entrevista, adiantando para os jornalistas que as mudanças iriam ocorrer imediatamente. Não, nada disso intriga.
Mas intriga o modo como a mídia de modo geral, e uma mídia comprometida com o sistema de mercado voraz, coloca ao leitor, ainda mais para os que não viram o Pedro Biela atrás do muro com sua gravatinha fininha anunciando no Fantástico a queda da muralha, a representação dessa parede de concreto. Ela representa mais. Representa a solidificação do conceito de liberdade com liberdade de consumo, liberdade de competir, liberdade de se comer. Podem até me chamar de comunista enrustido, coisa que abomino, mas não poderão me chamar de tapado. Como diria uma propaganda de um símbolo do capitalismo da Guerra Fria, as calças Levis: "A liberdade é uma calça azul desbotada".

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Borracha

Borracha era pequeno, mirrado, com cara de infeliz. Parecia infeliz, mas era só um disfarce. Começou a andar pelas ruas como quem não quer nada, olhando, inferindo, metendo o bedelho. Acontecia qualquer coisa na rua do pilintra e lá tava ele: de assassinato de traficante a mendigo que morre de frio, briga de casais até o mais discreto escarro do motorista de caminhão. Tudo era de seu conhecimento. Aprendera com as pauladas da vida a observar. Ser espectador dessa coisa toda que é o cotidiano.
Borracha não tinha amigos. Quer dizer: tinha, mas não eram "amigos". Ele se relacionava com o outro de um jeito muito peculiar: dava uma passada de olho de baixo a riba e sabia em quem podia confiar. No boeiro, a coisa fica mais preta quando se está sozinho. Juntos, ou em uma encardida matilha, conseguem se previnirem contra as porradas dos meganhas, o frio de fudê nos meses de julho e a investida dos pedófilos que não marcam toca. Viver é fácil, a merda é sobreviver.
Borracha passava os seus dias caminhando pelo centro. Uma vez até conseguiu um trabalho, mas não deu muito certo. O dono de um lava-rápido havia lhe oferecido um conto por cada carro lavado. Foi na segunda, na terça, na quarta faltou e na quinta nem passava mais pela sua cabeça de voltar até lá: "ganho mais não fazendo nada".
Borracha num belo dia encontrou sua sorte: havia arranhado o carro de um delegado por causa que o mesmo lhe recusara um trocado. Não teve outra, na noite seguinte uma renca de viaturas baixaram na rua do pilintra. Tinha mais luizinhas azuis e vermelhas do que a escuridão da bocada. Deram geral, queimaram cobertor, cobriram de porrada muleque marrento: "cadê o pequenininho? Fala porra!". Nem um piu. Procurou, procurou até encontrar o Borracha escondido no bueiro: "Achei!", anunciou o cabo Ferrazo. Levantaram a boca-de-lobo e tiraram o muleque num puxão só. Os carros foram embora, as sirenes, a rua escureceu novamente.
Na manhã seguinte, o comércio abria para mais um dia de compras. Os moleques, doloridos, levantavam com sofreguidão aos trancos dos empregados enxotando-os com suas vassouras. Era um dia qualquer, como todos os outros dias quaisquer.
Borracha nesse dia não acordou, não perambulou pela rua, não pediu dinheiro, muito menos observou o que acontecia em todo puto-dia. Como que um rabisco, apagaram-o do cenário da cidade.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Concursandos...

Domingo pela manhã os pontos de ônibus estão cheios. Estranho. Em São Paulo sempre está cheio, menos nos domingos. Até parece dia de eleição. Muitos estão se deslocando para definirem suas carreiras profissionais, a chamada estabilidade. Dia de concurso é assim: um monte de gente se deslocando para realizar uma prova que não prova nada. Engraçado: nessas sitações que você conhece alguns Typus Concursanduns: Numa pegada Taxonomia, Lineu, o naturalista¹, classificaria assim:
O ansioso. Sujeito inseguro que está até o último minuto restante lendo e revendo em seu caderninho o conteúdo das provas. Uma dor de barriga durante a execução da mesma é fatal para deixá-lo em desvantagem aos concorrentes.
Mamãe, estudei tudo. Ah sim. Esses são os típicos: sempre acompanhados dos ansiosos, ele destila sua aquisição de informações (que nem sempre se transforma em conhecimento), tais como a tendência das questões em concursos anteriores, quantidade de vagas, entre-linhas do edital etc etc infinitun.
Desencanado. Maioria esmagadora no total de inscritos. Todos os que, por um motivo ou outro, leram alguns capítulos do edital (vagas, remuneração, horas de trabalho etc), pagaram o boleto e acordaram domingo cedinho para fazer a prova. Esse tipo não estuda, nem pensa na possibilidade de passar, mas mesmo assim vai.
Religioso. Já ouvi relatos de luzes piscando nas alternativas corretas. Falaram que foi "Deus", ok. Mas esse tipo pode ser confundido com o Desencanado, todavia, há nuanças entre eles: o Religioso crê que sua fé é o bastante e que o importante não é se preparar, e sim, acreditar que "Deus" irá "iluminar sua mente" na hora do vamo ver.
Glutão. Tensão se alivia com calorias. Sempre fiquei curioso o quanto a indústria de barrinhas, chocolates, água mineral e demais apetrechos lucra na leva de concursos e vestibulares existentes. Nas Fodests da vida, houve relatos de pessoas que faziam refeições durante a maratona de palavras. O barulhinho da latinha de refrigerante é música de câmara diante do silêncio mortal à espera dos cadernos de questões.
Ramelão. Geralmente a turma que chega atrasada no concurso. Embora trágico, há nesse candidato uma leve dose de comicidade. 10, 20 e até 30 minutos após o fechamento dos portões, eles pulam do coletivo, quase se espatifam no chão correndo em direção ao local de prova. Triste isso. Mas não adianta chavecar o guarda que ele não abre a porteira.
Auto-ajudado. Sei que essa nomenclatura pode num primeiro momento parecer deselegante, mas uma pessoa concordaria comigo: William Douglas - o mestre dos concursos². É o tipo que acredita que irá passar por ter cumprido "os dez mandamentos do concursando". Leitores de auto-ajuda, acreditam em sua força interior, sua gana e dedicação. Confesso que tenho medo deles.
Dentre tantas figuras que povoam as ruas em domingos de manhã, o que tenho a dizer é: Cada um por si e deus contra todos.

¹ Carl Von Linné. Naturalista, Médico, Botânico e Zoólogo sueco do século XVIII. Criador da nomenclatura binominal e considerado "pai" da taxionomia moderna. Lineu, como é conhecido aqui no Brasil, só pensava em classificar, classificar e classificar. Esse doido montou um jardim botânico enorme com espécimes roubadas dos quatro cantos do mundo.
² William Douglas. Jurista, escritor e mestre dos concursos. Autor do livro Como passar em concursos públicos. O cara pesava 120 quilos e hoje é um grisalho sarado. Vende uma auto-ajuda de banca de jornal e, por sinal, ganha muito dinheiro.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Medo Líquido

Apertei a mão do sujeito e notei o quanto estavam melecada suas linhas da vida: acabara de usar o "álcool em gel". Em tempos de epidemia vale-tudo para não ser o infectado da vez. Nitído é o medo (talvez "líquido" Bauman?), o pavor e o olhar fulminante contra os gripados. Certo dia, cidadão portando máscara de pano entra no coletivo com cara de exausto. Embora a super-lotação do vagão, consegue um espaço bem amplo e ventilado. Alguns pulam da estação com medo de que o mascarado espirre contra a multidão indefesa. Mães apavoradas cobrem os rostos das crianças com medo de uma possível contaminação. O medo impera! E, não tirando o meu cavalinho da chuva, a coisa ainda não acabou: embora a queda no número de mortos, o Brasil figura o 1º lugar e 7º em taxa de mortalidade por gripe suína. Ministério da Saúde declara guerra à Gripe Suína, manchete de jornal marrom.
Repostagens, cadernos especiais, cartilhas, memorandos, teses de doutorado levam a informação ao leitor desavisado sobre os perigos desse mal sagaz. Dentre tantas coisas, umas elucidativas e outras nem tanto, caiu em minhas mãos uma cartilha sobre como se prevenir do Influenza. Na capa, de papel couchê, estampava um simpático leitão espirando bem forte (Atchiiiiim)! Poderia ser trágico, mas foi cômico. Fico pensando no insight do responsável por essa obra de arte.
Na vida capitalista não é diferente: queda nas bolsas combinada com recessão econômica. A única coisa que aumentou foram as vendas de Tamiflu, Álcool em Gel, Máscaras de Pano e demais armamentos de guerra. À boca pequena, e em tempos de crise ela fica escancarada, dizem as más línguas que o vírus foi até invenção da Roche, indústria farmaceútica, com o "governo americano". Não posso afirmar nada, mas ouvi falar.
Com um olho aqui e outro lá atrás, sem cometer anacronismos (certo Bloch?), penso nas imenssas pandemias, epidemias e gato-mias que o bicho humano passou. A peste negra, divertidamente pintada por Monicelli em O incrível exército de Brancaleone, foi a mais conhecida, e duradoura, das epidemias da história, mas não a única: só a Varíola, importada pelos colonizadores espanhóis, matou uma renca no México. Outra gripe, a espanhola, dizimou 20 milhões no início do século XX. Os pequenos invasores, numa perspectiva bem BBC, são aos trilhões e, que nos acuda, não tem dó e nem piedade.
De todo modo, fico na dúvida agora quando vou dar um aperto de mão no próximo pois nunca sei o que realmente estou apertando: se álcool em gel ou o próprio coisa-ruim do tal H1N1.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Getúlio me disse...

Ontem tive um sonho: trocava algumas ideias com, nada mais nada menos, o Sr. Getúlio Vargas. O baixinho reclamava da angústia de passar seu aniversário de morte tão triste e sozinho. Resmungou e ficou putíssimo com o uso de sua imagem pelos partidos e, mais ainda, com o desperdício feito de sua memória pelos historiadores, que desmascararam, e nem precisava, seu sorriso maroto e largo. Dito isso notei que sua voz embargara-se. Engoliu seco e balançou a cabeça com desgosto.
Tentei consolá-lo. Falei o quanto ele era ainda o "pai dos pobres" e que sobrou alguns poucos políticos que sentiam sua falta, seu braço forte. Nem adiantou. Estava decidido a se ausentar de suas aparições na terra dos vivos. Iria entrar no anonimato. Questionei-o que em tempos de internet era impossível, que ele já estava na rede e em tudo quanto era enciclopédia e livro didático de história. Relutou, disse o quanto não gostava disso, tentou explicar o que o levou a escrever uma carta e disparar contra o peito. Arrependera-se, na verdade. Escutando isso, foi a deixa:
- Já que tocaras no assunto, mas porque que é que você deu um tiro no coração? Não demorou para morrer? - Questionei o espectro.
- Zaz! Sabia que iria perguntar isso!
- Poxa, essa é uma oportunidade única, vai saber se o verei novamente...
- Tá, tá. É simples - prosseguiu com calma - é que para que o meu suicídio fosse o mais simbólico possível , eu tinha que tá bonito no caixão... Você por acaso queria que eu desse um tiro nos cornos?
- É, pensando por esse lado você tem razão...
- Pois é. Eu sabia que a coisa estava ficando feia para o meu lado, afinal de contas, eu morei no Catete por 15 longos anos! Tinha gente que não queria me ver lá de novo nem pintado a ouro! Aí, não aguentei mais ficar em São Borja. Precisava de calor e gente bonita. Não deu outra: juntei os "queremistas" e mais todo o populacho e mandei bem na eleição.
- Mas você deu pra trás depois... Não aguentou o rojão e achou um jeito bem bizarro para "sair da vida e entrar na história"...
- Bá Tche?! Tu num acha que não funcionou? Você mesmo disse aquela história da internet...
- Tô sabendo... Já sei! Vou postar essa conversa assim que eu acordar! Aí pode soar como um manifesto, ou algo assim...
- Guri! Só não vai queimar o meu filme!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Teimoso que nem César

As vezes me questiono sobre as características das pessoas: rabujentos, trapaceiros, malandros, manés, contestadores, bundas de tico-tico, arrogantes, figuras de pessoa, curiosos, maleáveis, teimosos... Multiplicidade. Acho que resume.
Por outro lado, quando converso com meus amigos sobre características astrológicas-metafísicas (direto e reto: signo), martela-me na cachola o que poderia ser eu nessa imensidão de humores.
Foi aí que descobri Gaius Julius Caesar, o imperador, mais conhecido por Júlio César, ou só César mesmo. Governante que rachava seu poder com um triunvirato, viveu e teimou no 100 a.C. com uma maestria tamanha. Só para se ter uma idéia, ele tinha um discurso marcado no senado no dia 15 de março de 44 a.C., pois no dia segunte, iria conduzir suas tropas para uma batalha de conquista. Os conspiradores, segundo a já conhecida história de Plutarco, tinham que decidir logo o cerco contra César, pois com uma banca de soldados ao seu redor, seria osso matar o dito-cujo. É aqui que começa a teimosia:

* Um adivinho lhe disse para não ir no senado aquele dia, cabeça-dura como ele, foi;
* Sua esposa, Cornélia Cinnila, falou para ele não colar no senado, pois tivera sonhos premonitórios horríveis, mas mesmo assim, ele foi;
* César sentiu-se mal no dia 15 de março, mas teve a brilhante ideia de que "se saísse de casa iria sentir-se melhor". Foi ao Senatus;

Por essas e outras, logo pensei: poxa, sempre falam que os taurinos são teimosos como uma mula, e César? Ele não. César era canceriano, nasceu no 13 de julho. Nessa lembrei de todas as conversas astrológicas-metafísicas com os companheiros de balela: leoninos, piscianos, taurinos, cancerianos, geminianos, capricornianos, escorpianos, virginianos, aquarianos... todos! Essa algazarra de gente com suas características particulares e coletivas.
É. O bicho humano é um troço complicado. Mas pelo menos aprendi com a história de Gaius uma lição e, como "moral da história", se existisse, tive até uma ideia de um ditado novo: teimoso que nem César.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Diálogos com Adorno


"Vai! Toma de assalto a minha grana. Não ligo não. Afinal de contas, preciso consumir. Não é sustentável? Que porra é essa? O quê sustenta o quê? A livre taxa do câmbio? O dólar?" O Adorno tá puto da vida com esse lance de consumo. Disse tudo isso depois de pagar a conta do bar. Bêbado, me questionou:

- Pra onde vai toda essa merda?
- Que merda... - Concordei acenando com a cabeça.
- 3 x merda! - Dizendo isso com um gesto que só os mortos tem.

Convidei-o para ver o filme do Padilha. Negou. 3 x negou. Falou que Jazz, Cinema e Rádio virou a mesma merda padronizada. Ficou horrorizado, notei, mas fingi que não se passava nada. Para quebrar o gelo sugeri para passar em casa para tomar um vinho. Atônito fiquei com sua resposta:

- É francês?
- Não, é de São Marcos...
- Não quero!

Percebi que o clima estava pesando. Resolvi animá-lo:

- Comprei um livro seu: "O iluminismo como mistificação"...
- Peraí! - Interrompeu como se eu tivesse dito besteira - Você ainda está lendo isso? Fala sério!
- Ué? Porquê?
- Escrevi esse livro em um momento ruim. Sabe aqueles dias que o busão atrasa? Tá chovendo e um filho de uma égua passa de carro na toda e joga água em você? Então: cheguei em casa e botei todos os diabos pra fora.
- Nossa!
- É meu caro, escrever tem dessas coisas...
- Imagino como você estava se sentindo...
- Bom, agora as coisas ficaram mais fáceis: enquanto fico no túmulo, tem uma renca de universitários babando pelo o quê escrevi. Rá, rá! Mal sabem eles que não dou a mínima pra tudo isso.
- Pra tudo o quê? - Interroguei-o.
- Pra toda essa bosta que é o mundo.
- Cara, acho que você precisa fazer terapia...

domingo, 26 de julho de 2009

Simon´s Cat

Para ver mais perpécias do Gato do Simon procure por "Simon´s Cat" no YouTube.
Só para constar: esse gato é foda.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

El Héroe

O velho tocador de pífano - Capítulo 4


Diz o velho que rixa arrumada é rixa feita. Se um tem que morrer, morre e Deus tem piedade dele só depois do purgatório. Dentre tantas desavenças, as de família são as mais sanguinárias. Uma forma de resolver a questão era a briga de foice: as partes em conflito amaravam uma camisa na outra e, munidos de foices, facas, peixeiras ou o que estiver ao alcance, se esfolavam até um ou outro cair no chão. Furar o bucho era o objetivo da briga. Essa contenda era motivo de muita falação nos arredores de Pau-D`Alho. Outra rixa muito comum nessas terras era o orgulho ferido de uma família: tias, avós, sobrinhos e irmãos se pegavam no tapa e não tinha filho de Deus que desgrudava os brigões. Numa dessas, a Tia para se vingar do irmão que tomou suas terras, mandou o filho ir matar o tio. Mas a mulher era tão coração de pedra que, não contente, mandou que o sobrinho trouxesse a orelha do irmão como prova de sua morte. Dito e feito: dia seguinte, o sobrinho traz a orelha decepada. Tia, sem titubear, como num ritual antropofágico, come a orelha do irmão com farinha.


O velho tocador de pífano - Capítulo 3


Certa vez, quando saia de um dos forrós abestalhados que só o nordeste têm, o velho caminhava pelas ruas de Caruaru à procura de um canto para passar a noite. Ao chegar perto de um cemitério, encontrou um bebê chorando. Comovido, o velho foi em seu auxílio, poderia ser uma mãe desnaturada que largou o filho para o diabo comer. Quando ele descobre o rosto da criança, envolto por uma manta de chita, o velho escuta alguém vindo em sua direção. Pegou a criança no colo e foi em direção ao transeunte em busca de ajuda. Ao se aproximar do viajante da noite, percebe o erro que cometera: era o tinhoso em pessoa! Para despistá-lo, segundo a anedota, colocou o bebê dentro da blusa, e fingiu ser uma grávida. O coisa-ruim, sedento por um rebento chorão, nem percebeu o movimento e foi logo perguntando:

- Ei matuto! Tu viu um rebento choramingando por aqui?

- Vi não seu moço, eu tô só de passagem...

- Ué? Mai eu tinha certeza que tinha visto o filho-de-rapariga esgoelando por cá... Têm certeza?

- Tenho sim sinhô. Eu num vi nada...

O muleque, que incomodado com o aperto da barriga e da camisa, começou a chorar. Num instante, o cabrobó percebeu a audácia do matuto. Sacou seu espeto e ameaçou furar o velho. Em um pulo só o velho deu no pé e sai em disparada em direção ao portão do cemitério. Quanto mais corria, parecia estar mais perto do diabo. Pulou pra dentro do muro do cemitério e ficou caladinho escondido atrás de uma tumba. O diabo, insistente, rodeou, rodeou e rodeou o sepulcro procurando o velho-grávido. Em um instante, com a ajuda de todos os santos, virou pedra. Esperou, esperou (se desse um espirro, a ilusão poderia denunciá-lo) até o tinhoso desistir de sua procura. Cansado de esperar, coisa-ruim foi buscar sua presa em alguma maternidade por aí. Ao sair de sua petrificação, o velho não entendia porque o bebê se transformara em um gato, que miava baixinho como se quisesse lhe agradecer por algo.

O velho tocador de pífano - Capítulo 2


O velho tinha uma velha. Essa era menos dada do que ele: carrancuda, juízo ruim, cabeça-dura. Casados a mais anos do que o tempo do ronca, viviam numa casinha em um sítio nos arredores de Pau-D’Alho. O saldo dessa história de amor: 18 filhos, 4 mortos e um maluco. Para dar o que comer aos coitados, dividiam 4 ovos cozidos em 14 bandas. Para completar a mistura, farinha no prato com feijão andu. E olha que a culinária era exótica para nós citadinos: farinha com melancia, farinha com quiabo, farinha com feijão, farinha com... Parece que tudo ia farinha.
Se a velha era marrenta, o velho não ficava atrás: só comia se a velha colocasse comida no prato. Poderia passar horas a fio esperando um bocado de atenção. Sim, viviam numa contenda que só nordestino entende. Brigavam, chamegavam, odiavam, amavam e enlouqueciam, tudo isso ao mesmo tempo. Penso que a pós-moderna “D.R.” não era coisa que se fazia nos tempos do velho. Cada um batia seu prego, cada qual em seu canto. Se um titubeasse com o outro, toma lá paulada, eita agonia da cebola!

terça-feira, 21 de julho de 2009

O velho tocador de pífano - Capítulo 1


“Quando cheguei para pegar a faca, a raposa já tinha levado ela na goela”. Com essa frase o velho começava uma anedota. Vendedor de cachaça, tocador de pífano, contador de histórias e mentiroso. Isso mesmo: mentiroso! É assim que a mãe se referia ao velho. Hoje, com um olhar mais distante (e bota distante nisso!) consigo ter uma imagem mais clara: o matuto era uma figura digna de cordel. Aliás, digníssimo! O homem só não assoviava e chupava cana ao mesmo tempo. Diríamos que era um visionário, “um homem à frente de seu tempo”. E isso não por causa das estórias, não. Era muito mais: cada história, cada causo, cada relato, por mais fruto de sua imaginação que fosse, era uma parte, mesmo que pequena, dessa belíssima cultura popular (ainda não entendi por que a academia chama de “cultura subalterna”...). E o homem era forte! Não força física, não. Era forte porque sabia o quanto a linha é tênue entre a morte e o outro lado. Benzedor. Uma vez, quando o neto estava com dor de dente, arrancou uma raiz no pé de uma árvore, colocou no dente da criança, algumas rezas bravas e pronto! A dor se foi. Como é que pode? Vai saber. Poder ele não tinha, dinheiro menos ainda, mas tinha em suas mãos e em seu olhar uma ética do sertanejo. Sim, o sertão ainda não virou mar, mas se virasse, o tocador de pífano já teria previsto.

E tocava pífano que era uma beleza! Os matutos, ao redor do botequim, ficavam igual urubu em cima da carniça pedindo para o velho tocar “aquela da galinha dismiuçada”, “do calango de uma perna só”. E quanto mais música, mais cachaça virando no copo, mais contos de réis em sua caixinha. Entre uma música, uma balela e outra, desce mais cachaça, mais alegria e menos lembranças da vida-cão que levavam. Era como uma troca: cachaça por estórias, cachaça por música. Um serviço de primeira, comparado aos “barzinhos” que a Vila Madalena nunca terá.


quinta-feira, 16 de julho de 2009

Procura-se Raposito

Diante de tantas mazelas que assolam o mundo,
resolvi ajudar nessa causa:


Quem tiver ideia de onde está Raposito, queira pelo amor de deus entrar em contato (ele toma remédio para o coração!).

terça-feira, 14 de julho de 2009

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Telemarketing

Sexta à noite, ruas agitadas, nos bares já deu início ao happy hour (gostaria de entender essa expressão estrangeirista aqui no Brasil, não poderiam adaptá-la?), tudo começou numa sexta inocente... O telefone toca:
- Alô! Por gentileza o Sr. Vandre?
- Sim, pois não... - logo reconheço a voz polida do vendedor do outro lado da linha.
- Sr. Vandre, eu sou o Gustavo Barroso do programa + do banco Itaux e gostaria de lhe estar fazendo uma proposta para o Sr. desfrutar das vantagens do uso do seu cartão múltiplo, eu poderia estar tendo um minuto de sua atenção Sr. Vandre?
- Tá, ok, mas não é Vandre, é Vandré... com acento agudo no "e".
- Pois então Sr. Vandre...
- Vandré!
- Como eu dizia Sr. Vandre, o programa de relacionamento do cartão + poderá estar lhe proporcionando uma gama de possibilidades nos seus gastos diários, como supermercado, drogarias, bares e restaurantes, e no caso do Sr. viajar para o exterior, o Sr. estará utlizando seu cartão na maior parte dos países da América do Sul, Estados Unidos e Europa...
As informações eram tantas que eu não conseguia pensar em nada. Pensava na cerveja gelada, na saga de uma sexta comemorativa. O vendedor continuava sua ladainha, parei para atravessar a rua, foi então que peguei novamente o fio da meada de Gustavo no telefone:
- ... e com o cartão + o Sr. poderá estar pagando suas contas de água, luz, telefone e internet diretamente na fatura de seu cartão. O Sr. tem alguma dúvida Sr. Vandre?
-Olha Gustavo, não tenho dúvida não. Mas infelizmente não estou interessado porque eu prefiro não utilizar cartão de crédito. Acho que é uma viagem sem volta.
- Mas Sr. Vandre, este cartão está livre de anuidades até janeiro do ano que vem. E após essa data, estará sendo cobrada uma tava de R$ 25,90 pela anuidade, que poderá ser dividida em 6 vezes com juros de 1,45 % ao mês. O Sr. não está interessado, Sr. Vandre?
- Então, não uso cartão de crédito, como eu falei...
- Sr. Vandre, para fazer o cartão, basta eu confirmar rapidamente alguns dados pessoais e dentro de 5 minutos o Sr. já poderá estar se dirigindo à qualquer um dos 300 mil estabelecimentos onde sua bandeira aceita o cartão +... - Não suportei, interrompi sua ladainha:
- Não! Olha meu caro, não quero e não pretendo ter. Obrigado por ter ligado, mas não estou a fim de nenhum cartão "a+"...
- Ok, Sr. Vandre... Então futuramente eu poderia estar ligando para o Sr. para discutirmos as vantagens do cartão + para o Sr., Sr. Vandre?
- A tá, beleza, beleza... - foi a maneira mais rápida que achei para dispensar meu interlocutor.
- Ok Sr. Vandre, retornarei essa ligação em breve, tenha uma boa noite.
- Boa noite pra ti também.
Desliguei o telefone, estava com o ouvido quente do celular. Quando me dei por conta, já haviamos chegado ao boteco. A noite foi divertida, um, dois, três copos de vodca com gelo e mais alguns copos de cerveja. O dia seguinte seria dor de cabeça na certa. Mas a gente nunca pensa nisso quando está bebendo.
No sábado pela manhã, acordo com a musiquinha do celular. Levanto, caço o bicho por debaixo da cama, quando avisto o número terminado em zero zero - todos centros de atendimento "ativo" ao cliente, no linguajar do telemarketing, termina com zero zero. Desligo a maldita campainha do telefone e penso: "puts, é o Gustavo Barroso..."

quinta-feira, 9 de julho de 2009

LUA

Bebendo meu café, olhei para o alto e de relance me encontrei com esse astro enigmático

segunda-feira, 6 de julho de 2009

7 dicas para sobreviver em um ônibus lotado

Uma das grandes coisas que aprendi com mamãe foi a de andar de ônibus. Com o tempo, fui adquirindo prática, muito útil em vésperas de feriado em São Paulo ou horários de pico nos dias de labuta, coisa que, se tivesse me dedicado mais, poderia até dar aulas de "defesa pessoal no coletivo". Eis algumas estratagemas que a experiência me proporcionou:

  1. Ao entrar, dê um jeito de ir o mais próximo possível da porta. No entanto, não faça o papel do "folgado da porta": aquele doido que sempre quer ficar dependurado nos degraus, mesmo com o ônibus vazio;
  2. Quando ver que não há lugar para por o pé, lembresse dos tempos de menino, quando os colegas pisavam sem dó o tênis novo do amigo. Isso se chamava "estrear". Ajuda muito para abrir caminho na imensidão de bundas, pernas e pés;
  3. Uma distração a mais é abrir um livro, ou, melhor ainda, um jornal: sempre haverá um parceiro-leitor disposto a ceder espaço à página A3 em troca de uma notícia sobre o timão, ou mesmo para ler a capa, já que todos querem ficar informados;
  4. Pedir licença sempre é o melhor recurso. Muitas vezes a pessoa tá puta da vida porque você quer passar, mas um "com licença" auxilia a dechavar a raiva que ele sente por você. Encoxe, aperte, acotovele, mas sempre seja educado;
  5. Se houver alguma situação em que você precise se defender, utilize o famoso "o ônibus está fazendo a curva", ou mesmo, faça aquela cara feia de que não tá gostando muito do motorista e a culpa é toda dele pela lombada não avistada. Converse com desconhecidos, eles terão a mesma idéia sobre a projenitora do condutor;
  6. Caso haver um engraçadinho com um mp2000 - sei lá, a cada dia há tantos novos - com o som alto e sem a menor noção da existência dos fones de ouvido, começe a cantar desafinadamente a música que o indivíduo está forçando o coletivo escutar - por isso colocou em volume tão desgraçadamente alto - com certeza ele irá desligar.
  7. Sempre haverá duas ou mais pessoas que conversam pra caralho como se estivessem na cozinha de casa. Esses indivíduos acham que, como o moleque do mp2520, todos deverão estar a par do assunto do trabalho, da chefe filha-de-uma-puta, do esposo folgado e bebum, da cunhada assanhada etc etc etc. Nesse caso, você poderá optar por duas atitudes: comece a dar risada sozinho, fingindo achar graça no assunto delas, mas olhando de vez em quando para os interlocutores anônimos; ou, mais sarcasticamente, entre na conversa! Dê um exemplo que como o seu patrão é mais filho-de-uma-égua, que sua cunhada é mais vaca do que todas juntas, de que sua conta de luz à meses que não é paga, que seu gato é caolho e seu cachorro tem hanseniáse. Se isso não resolver, comece a bater a cabeça na parede pedindo que "as vozes cessem de falar!".
Se caso tudo isso não ajudar, sinto muito: te lascaste por inteiro, pois ônibus vazio, só em feriado e olhe lá. Fazer o quê... Como diria um personagem de "Cronicamente Inviável", numa cena de um busão lotado: "a gente gosta de se fuder, e gosta de se fuder juntinho".

terça-feira, 30 de junho de 2009

Agora vai!


Tamo aí de novo, tentando deixar a bunda esquentar para ver se sai alguma coisa. Estava pensando um dia: "e daí? todo mundo tem um blog, o seu que não vai ser diferente". Realmente, concordei comigo mesmo. Diversas personalidades tem: desde a Glória Perez, passando por jornalistas que tem nome conhecido, mas continuam anônimos, até Vanessão! (para quem não conhece, joga no "youtube"). Mas resolvi tentar. Nessa vida cibernética qualquer um pode tentar (chamariam isso de ilusão democrática, já que na internet todos acham que aqui é "a terra da liberdade").
Outro dia, lendo um blog de um camarada, pensei: "nossa, podemos nos comunicar ab infinitum!". A coisa ficou tão "internética" que quando o servidor cai ou o speedy te deixa a ver navios, as pessoas começam a entrar em pânico com medo de não ver o último e-mail ainda não enviado. Outra vez, com a morte de Michael, li uma notícia um tanto curiosa: "Michael Jackson morreu primeiro no Tweeter". Porra! A coisa tá tão interconectada que nem o criador do moonwalker escapou da conectividade da vida, ou no caso dele, da morte.
Mas ainda falta algo a dizer: como tudo na vida, na internet tem muito lixo. E é de assustar a quantidade de baboseiras que gente, criando vídeos ou blogs, tem a pachorra de publicar (esse blog, por exemplo, pode ser uma enorme farsa, tanto linguística quanto poeticamente falando). É muito fácil encontrar uma renca de vídeos que anônimos aspirantes à estrela colocam na rede. Esse é o lado perverso da internet: a doce ilusão de que no mundo virtual, tudo pode pra quem tudo quer. Por isso gosto da propaganda que dizia "a liberdade é uma calça azul desbotada".
É isso.