quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Admirável desenho animado


Esses dias estava vendo Snoopy e senti saudade dos tempos de mulecote: os penhascos são apenas assovios e as armas não deixam maior dano do que uma poeira preta no rosto. Um mundo surreal onde o Pica-Pau, com sua estadunidense penagem, faz coisas inusitadas como ficar de ponta-cabeça ou aparecer em mais de um lugar ao mesmo tempo. Divertido isso, não? Ai penso de como os pequenos devem se encantar com isso e, por outro lado, o quanto esses desenhos são carregados de sentido. Mas a tudo isso, devemos muito à nossa TV que, desde que me dou por gente, reprisa o mesmo Pernalonga, Popeye, Michey, Pato-Donald e todos mais que você lembrar. Graças a essa repetição, hoje consigo penceber muitas coisas que, quando crianças, nos deixavam fascinados.
Os desenhos animados, em dias que correm, veiculam outros planos ideológicos: esses dias, na fila do mercado, vi um menininho (menininho mesmo, pois devia ter 4 anos) vestido dos pés à cabeça do tal Ben 10. Depois, conheci um outro que de dez frases no auge de seus 3 anos de vida, 4 tinham ou 10 ou Ben no meio. Antigamente não tinhamos muito acesso a esse mundaréu de brinquedos e vestimentas licenciadas: ao invés disso, tinhamos o Jaspion, o Playmobil e suas intermináveis profissões (uma certa vez pensei: "o Playmobil imita a vida?"), um boneco dos "Comandos em Ação" e a cinquentona Barbie, firme em seu império, mas ocasionalmente abalado pelo poderio dos bebês bizzaros da Xuxa ou da Eliana - sem contar a interminável tiragem de bebês que choram, andam, patinam, etc, etc, etc). Antes se vendia elementos ideológicos oriundos da Guerra Fria, agora, sem ter o que combater, já que o capitalismo venceu(?), a mulecada compra o pacote ideológico da vida consumista, onde rosa é sinônimo de menina - onde devemos dar graças à ex-namorada do Ken, hoje, vendo seu reinado ser ameaçado por Polly - que tem site, desenho animado e, o melhor, um enorme shopping(!).

Mas para não ficar numa visão frakfurtiana da coisa, o desenho também subverte: o Homer com sua lata de Duff, Bob Esponja em seu mundo aquático ou os meninos politicamente incorretos do South Park. Se no mundo que nos configurou - o pós Segunda Guerra Mundial - o desenho animado era carregado da ideologia maniqueísta oriunda da Guerra Fria, nos dias de hoje, ele é posto cotidianamente nos aparelhos televisivos, assumindo diversos matizes, propostas e signos. Houve uma ampliação, tanto para faixas de desenvolvimento da criança quanto para vender produtos licenciados. Mundo confuso esse, não? Nessa contraditoriedade nos auges da economia de mercado, uma coisa é certa: os brinquedos, tanto os do camelô quanto os das lojas dos shoppings, foram fabricados por um anônimo chinês a 30 cents a peça. Tá tudo integrado: a grana, o mercado e a merda.

Um comentário:

jardim disse...

salve cabeça!forte abraço!antes queríamos ser indios ou cowboys, hoje as crianças querem ir ao shopping. Ainda bem que apesar disso, existem as crianças que brinacam na rua!Te cuida!