quarta-feira, 22 de julho de 2009

O velho tocador de pífano - Capítulo 3


Certa vez, quando saia de um dos forrós abestalhados que só o nordeste têm, o velho caminhava pelas ruas de Caruaru à procura de um canto para passar a noite. Ao chegar perto de um cemitério, encontrou um bebê chorando. Comovido, o velho foi em seu auxílio, poderia ser uma mãe desnaturada que largou o filho para o diabo comer. Quando ele descobre o rosto da criança, envolto por uma manta de chita, o velho escuta alguém vindo em sua direção. Pegou a criança no colo e foi em direção ao transeunte em busca de ajuda. Ao se aproximar do viajante da noite, percebe o erro que cometera: era o tinhoso em pessoa! Para despistá-lo, segundo a anedota, colocou o bebê dentro da blusa, e fingiu ser uma grávida. O coisa-ruim, sedento por um rebento chorão, nem percebeu o movimento e foi logo perguntando:

- Ei matuto! Tu viu um rebento choramingando por aqui?

- Vi não seu moço, eu tô só de passagem...

- Ué? Mai eu tinha certeza que tinha visto o filho-de-rapariga esgoelando por cá... Têm certeza?

- Tenho sim sinhô. Eu num vi nada...

O muleque, que incomodado com o aperto da barriga e da camisa, começou a chorar. Num instante, o cabrobó percebeu a audácia do matuto. Sacou seu espeto e ameaçou furar o velho. Em um pulo só o velho deu no pé e sai em disparada em direção ao portão do cemitério. Quanto mais corria, parecia estar mais perto do diabo. Pulou pra dentro do muro do cemitério e ficou caladinho escondido atrás de uma tumba. O diabo, insistente, rodeou, rodeou e rodeou o sepulcro procurando o velho-grávido. Em um instante, com a ajuda de todos os santos, virou pedra. Esperou, esperou (se desse um espirro, a ilusão poderia denunciá-lo) até o tinhoso desistir de sua procura. Cansado de esperar, coisa-ruim foi buscar sua presa em alguma maternidade por aí. Ao sair de sua petrificação, o velho não entendia porque o bebê se transformara em um gato, que miava baixinho como se quisesse lhe agradecer por algo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho que conheço um pouco dessa estória!!!! rs.....
Flavinha