sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Concursandos...

Domingo pela manhã os pontos de ônibus estão cheios. Estranho. Em São Paulo sempre está cheio, menos nos domingos. Até parece dia de eleição. Muitos estão se deslocando para definirem suas carreiras profissionais, a chamada estabilidade. Dia de concurso é assim: um monte de gente se deslocando para realizar uma prova que não prova nada. Engraçado: nessas sitações que você conhece alguns Typus Concursanduns: Numa pegada Taxonomia, Lineu, o naturalista¹, classificaria assim:
O ansioso. Sujeito inseguro que está até o último minuto restante lendo e revendo em seu caderninho o conteúdo das provas. Uma dor de barriga durante a execução da mesma é fatal para deixá-lo em desvantagem aos concorrentes.
Mamãe, estudei tudo. Ah sim. Esses são os típicos: sempre acompanhados dos ansiosos, ele destila sua aquisição de informações (que nem sempre se transforma em conhecimento), tais como a tendência das questões em concursos anteriores, quantidade de vagas, entre-linhas do edital etc etc infinitun.
Desencanado. Maioria esmagadora no total de inscritos. Todos os que, por um motivo ou outro, leram alguns capítulos do edital (vagas, remuneração, horas de trabalho etc), pagaram o boleto e acordaram domingo cedinho para fazer a prova. Esse tipo não estuda, nem pensa na possibilidade de passar, mas mesmo assim vai.
Religioso. Já ouvi relatos de luzes piscando nas alternativas corretas. Falaram que foi "Deus", ok. Mas esse tipo pode ser confundido com o Desencanado, todavia, há nuanças entre eles: o Religioso crê que sua fé é o bastante e que o importante não é se preparar, e sim, acreditar que "Deus" irá "iluminar sua mente" na hora do vamo ver.
Glutão. Tensão se alivia com calorias. Sempre fiquei curioso o quanto a indústria de barrinhas, chocolates, água mineral e demais apetrechos lucra na leva de concursos e vestibulares existentes. Nas Fodests da vida, houve relatos de pessoas que faziam refeições durante a maratona de palavras. O barulhinho da latinha de refrigerante é música de câmara diante do silêncio mortal à espera dos cadernos de questões.
Ramelão. Geralmente a turma que chega atrasada no concurso. Embora trágico, há nesse candidato uma leve dose de comicidade. 10, 20 e até 30 minutos após o fechamento dos portões, eles pulam do coletivo, quase se espatifam no chão correndo em direção ao local de prova. Triste isso. Mas não adianta chavecar o guarda que ele não abre a porteira.
Auto-ajudado. Sei que essa nomenclatura pode num primeiro momento parecer deselegante, mas uma pessoa concordaria comigo: William Douglas - o mestre dos concursos². É o tipo que acredita que irá passar por ter cumprido "os dez mandamentos do concursando". Leitores de auto-ajuda, acreditam em sua força interior, sua gana e dedicação. Confesso que tenho medo deles.
Dentre tantas figuras que povoam as ruas em domingos de manhã, o que tenho a dizer é: Cada um por si e deus contra todos.

¹ Carl Von Linné. Naturalista, Médico, Botânico e Zoólogo sueco do século XVIII. Criador da nomenclatura binominal e considerado "pai" da taxionomia moderna. Lineu, como é conhecido aqui no Brasil, só pensava em classificar, classificar e classificar. Esse doido montou um jardim botânico enorme com espécimes roubadas dos quatro cantos do mundo.
² William Douglas. Jurista, escritor e mestre dos concursos. Autor do livro Como passar em concursos públicos. O cara pesava 120 quilos e hoje é um grisalho sarado. Vende uma auto-ajuda de banca de jornal e, por sinal, ganha muito dinheiro.

Um comentário:

babis disse...

Agora só falta vc escrever sobre o dia de exame da auto-escola, rs!!!!

babis