sexta-feira, 10 de julho de 2009

Telemarketing

Sexta à noite, ruas agitadas, nos bares já deu início ao happy hour (gostaria de entender essa expressão estrangeirista aqui no Brasil, não poderiam adaptá-la?), tudo começou numa sexta inocente... O telefone toca:
- Alô! Por gentileza o Sr. Vandre?
- Sim, pois não... - logo reconheço a voz polida do vendedor do outro lado da linha.
- Sr. Vandre, eu sou o Gustavo Barroso do programa + do banco Itaux e gostaria de lhe estar fazendo uma proposta para o Sr. desfrutar das vantagens do uso do seu cartão múltiplo, eu poderia estar tendo um minuto de sua atenção Sr. Vandre?
- Tá, ok, mas não é Vandre, é Vandré... com acento agudo no "e".
- Pois então Sr. Vandre...
- Vandré!
- Como eu dizia Sr. Vandre, o programa de relacionamento do cartão + poderá estar lhe proporcionando uma gama de possibilidades nos seus gastos diários, como supermercado, drogarias, bares e restaurantes, e no caso do Sr. viajar para o exterior, o Sr. estará utlizando seu cartão na maior parte dos países da América do Sul, Estados Unidos e Europa...
As informações eram tantas que eu não conseguia pensar em nada. Pensava na cerveja gelada, na saga de uma sexta comemorativa. O vendedor continuava sua ladainha, parei para atravessar a rua, foi então que peguei novamente o fio da meada de Gustavo no telefone:
- ... e com o cartão + o Sr. poderá estar pagando suas contas de água, luz, telefone e internet diretamente na fatura de seu cartão. O Sr. tem alguma dúvida Sr. Vandre?
-Olha Gustavo, não tenho dúvida não. Mas infelizmente não estou interessado porque eu prefiro não utilizar cartão de crédito. Acho que é uma viagem sem volta.
- Mas Sr. Vandre, este cartão está livre de anuidades até janeiro do ano que vem. E após essa data, estará sendo cobrada uma tava de R$ 25,90 pela anuidade, que poderá ser dividida em 6 vezes com juros de 1,45 % ao mês. O Sr. não está interessado, Sr. Vandre?
- Então, não uso cartão de crédito, como eu falei...
- Sr. Vandre, para fazer o cartão, basta eu confirmar rapidamente alguns dados pessoais e dentro de 5 minutos o Sr. já poderá estar se dirigindo à qualquer um dos 300 mil estabelecimentos onde sua bandeira aceita o cartão +... - Não suportei, interrompi sua ladainha:
- Não! Olha meu caro, não quero e não pretendo ter. Obrigado por ter ligado, mas não estou a fim de nenhum cartão "a+"...
- Ok, Sr. Vandre... Então futuramente eu poderia estar ligando para o Sr. para discutirmos as vantagens do cartão + para o Sr., Sr. Vandre?
- A tá, beleza, beleza... - foi a maneira mais rápida que achei para dispensar meu interlocutor.
- Ok Sr. Vandre, retornarei essa ligação em breve, tenha uma boa noite.
- Boa noite pra ti também.
Desliguei o telefone, estava com o ouvido quente do celular. Quando me dei por conta, já haviamos chegado ao boteco. A noite foi divertida, um, dois, três copos de vodca com gelo e mais alguns copos de cerveja. O dia seguinte seria dor de cabeça na certa. Mas a gente nunca pensa nisso quando está bebendo.
No sábado pela manhã, acordo com a musiquinha do celular. Levanto, caço o bicho por debaixo da cama, quando avisto o número terminado em zero zero - todos centros de atendimento "ativo" ao cliente, no linguajar do telemarketing, termina com zero zero. Desligo a maldita campainha do telefone e penso: "puts, é o Gustavo Barroso..."

3 comentários:

Fabio disse...

Ele voltar'a, por de ter certeza...

Vandré disse...

Já voltou!

João Killer disse...

Hilário esse texto. E vi a todo o momento. Às vezes também deixo o atendente falar e até finjo aceitar suas condições pra me livrar dele. Ou finjo não ser eu o “procurado”. Muito boa à narrativa, me prendeu até o final. Parabéns pelo texto.