segunda-feira, 15 de agosto de 2011

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A comunidade

A meio metro de distância, tranco a porta e atrás de mim surge a figura esguia da zeladora:

- Bom dia.
- Bom dia...
- Eu vou ser franca contigo, pois sou assim desde que nasci: você vai sair desse condomínio hoje!
- ? E porque eu devo sair daqui? Não entendi...
- Ok, mais franqueza: você vai sair desse prédio, nem que eu chame a polícia!
- Calma aí Dona Zeladora, não entendendo o motivo, não paguei a taxa de condomínio?
- Pagou. Mas isso não importa. Você sai hoje!

Saiu, bateu a porta e ainda trancou as três fechaduras. Caralho. O que é que tá acontecendo? Sempre soube que a zeladora não batia com meu santo, mas expulsar um morador do prédio já era abuso. Voltei, respirei fundo e toquei a campainha. Sem sucesso. Era como se a velhinha estivesse dormindo seu sono de diazepam. Fazer o quê? Resolvo depois do trabalho.
Passou o dia e já nem passava pela minha cabeça o disparate da Zeladora. No final do dia, voltando para casa me deparo com uma massa de populares que tomava conta da rua. Empunhando pedaços de pau e tochas improvisadas, a massa humana queria sangue. Algum mais atento ao me ver alardeou o povo:

- Olha ele lá! Vamo mata esse filho da puta!
- Mata! Esfola! Hoje ele não entra nesse prédio!
- Ele não serve para nossa comunidade!

Sai correndo que nem galinha com medo de virar assado de domingo. A medida que corria, mais gente ia compondo a horda ensandecida. Pulei quintal alheio, fugi de cachorro, rasguei a roupa em caco de vidro em cima de muro e a massa ia crescendo, cada vez mais odiosa. Não havia remédio: deveria enfrentar aqueles doidos. Parei a alguns metros de distância, acenei com a mão pedindo clemência quando, a última coisa que me lembro, uma tijolada me acerta bem no meio dos cornos. Depois disso, não me lembro mais de nada. É essa a lembrança que tenho de minha morte. Quando se morre, a coisa toda fica meio confusa. Mas uma última imagem que tenho, aquele momento da expiação, foi de Dona Zeladora em meio a multidão comandando o auto de purificação, repetindo, repetindo que nem bolacha riscada: ele não serve para nossa comunidade.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

A taça do mundo é nossa...

Viva o futebol! As mídias estão exalando futebol. As pessoas fedem a copa do mundo. E os debates? Os jogadores de futebol - que merecem capítulo à parte - desenterrados do âmago de suas aposentadorias para vestirem terninhos mequetrefes. Devemos dar um destaque especial para Denilson, figura que no programa de ontem apareceu com uma máscara do Robinho. Fico imaginando o quanto deve estar ganhando para fazer isso. O cara é uma peça, constratando com a seriedade imaculada do novo Edmundo, ex-animal e hoje tão conciso e paciente: o futebol transforma as pessoas.
Mas nada foi mais polêmico do que a desmiolada Jabulani, injustamente comparada com as bolas de mercadinho. Tadinha dela, não pediu para nascer. Mundo cruel! Foram oito anos para ela vir ao mundo e tratam ela desse jeito? Cadê o ECA? Atribuíram até poderes sobrenaturais à redonda.
No campo dos personagens vemos ressurgir com ímpeto a verborrágica atuação de Milton Neves e a ascensão de movimentos revolucionários de cunho popular como o "Cala a boca Galvão". Figurinhas carimbadas, mas que vão puxar nossos pés por longas noites, ainda.
E as famigeradas vuvuzelas? Roubaram a cena nessa copa. Esses dias na rua, a poucos minutos de começar Brasil X Chile, um motorista demonstrava sua habilidade de dirigir e tocar a corneta maldita. Incrível!
Por outro lado, as eleições vão indo bem, obrigado. Zé-pedágio, ou mais conhecido como "Zóio de Butão", permanece firme e forte no segundo lugar. D. Zilma, empunhando uma cabeleira avermelhada que desafia as leis gravitacionais, segue repaginada: aprendeu com Lulinha-paz-e-amor a sorrir. A dúvida da assessoria de imprensa é decidir se ela vai ou não a uma possível final da copa: "Se o Brasil perder, podem considerar ela pé-frio".
A imprensa anda furiosa com o 5º anão, causando assim batalhas colossais por uma entrevista. Os humoristas, personas non grata pelo treinador, tentam se virar como podem para arrancar uma piada, o jeito é desligar televisão em Buenos Aires. Dunga, ex-anão e hoje herege, arrebentou a boca do balão com a Grobo. Menino desbocado, coisa feia.
Por essas e outras não resta pulga atrás da orelha: A taça do mundo é ou não é nossa? Viva o Brasil, verde-amerelo-e-banguelo.


quinta-feira, 1 de abril de 2010

Fechado para balanço

Aos bilhões de leitores espalhados pelos quatro cantos do planeta:
Os blogs Cabeça Fresca e Manda pro Inferno estão a partir do dia 1º de abril oficialmente de férias. Mas não se preocupem, caríssimos leitores: estaremos novamente aí com novas ideias e muitas propalações. Confiram:

Manda pro Inferno: Como passaremos algumas semanas de férias, a fila do purgatório vai ficar insuportável, portanto, uma sugestão de Gustavo "Verde", seria uma barca com grupos de três. Então lá vai a sugestão para o mês de abril:

"Expresso Cantores": Preta Gil, Claúdia Leite e Toni Garrido

"Barca do Botox": Ana Maria Brag
a, Eliana e Arlete Sales

"Cruzeiro Artístico": Luciano Zafir, Marcos Pasquim e Tiago Rodrigues

Participem, a votação acaba dia 23 de abril!

Fui!

sexta-feira, 12 de março de 2010

Digas o que "twittas" que direi quem és!

Não vivendo exatamente numa sociedade como no filme Brazil (1985) de Terry Gilliam, a vida "pós-moderna", "moderna tardia", "pós-estruturalista" - ou como quiserem chamar - tem se mostrado um tantinho embaraçosa para alguns. Do 1º blog (o scripting.com) à útima bolacha do pacote, o famigerado Twitter, muita coisa mudou: os nossos antigos "Diários", guardados à sete chaves, foram reapropriados em tempos de internet transformando-se numa ferramenta curiosa de conhecer o bicho-humano.
Um amigo, certa vez me disse: "essa coisa de internet é um diário aberto". Bingo! E não é que é? Pois, queira ou não queira, no diário, mesmo que o intuíto é a reclusão, o segredo, ao escrever você esta de alguma forma registrando memórias. Memórias estas que alguém que não você também vai ler. De todo modo, os nossos blogs nasceram com essa ideia, transmutando-se para os blogs de política, pornografia, pessoais ou de simplesmente fornecer links de download.
Até aí tudo bem. A coisa mudou de cor quando nasceu os micro-blogs. Neles há uma certa "imediatez", a mensagem enviada sem muito pensar, alí, na lata. Lá no twitter você tem "seguidores", o que sempre me vem a mente um twitter do Chapolim: "Siga me os bons!"
Aprendam com o exemplo:

- No intervalo do Jornal Nacional, William Bonner, ou @realwbonner, postou: "Voltamos já!";
- @aguinaldo_silva, autor de Tiêta, chamou um participante do "BBB" de "Paraibazinho Cinfrim". Criticado pelo povo paraibano, obviamente, respondeu: "falei e não me arrependo";
- A "Sandy Júnior", que se chama agora @sandy_leah, alfinetou a impaciência do esposo Lucas Lima (leia-se @lima_lucas) no twitter. O mesmo deu o troco na esposa também no micro-blog;
- O senador @sen_buarque tem twitter, mas não foi ele quem criou, e sim, um simpatizante anônimo. Gostou tanto da ideia que resolveu pagar para o fã "twittar" para ele;
- @barackobama utilizou o quê na sua campanha? Bom, essa é mais velha que o arco.

Dentre muitas e outras "twittadas", essa vida "pós-alguma-coisa" é divertida, é surreal. Por isso, repito que nem ladainha de beata: digas o que "twittas" que direi quem és!


quarta-feira, 3 de março de 2010

Mais um que queima!

Saiu o resultado da enquete do blog Manda pro inferno e Pedro "Biel" foi o escolhido pelos internautas. Com diferença de 1 voto apenas, Bial tomou o lugar do prefeito Kassab numa disputa acirradíssima. Paris Hilton e Luciana Gimenez levaram a pior ficando com 2 votos cada. Para conferir o que aconteceu ao poeta meia-boca do "BBB" dá uma passada no blog: mandaproinferno.blogspot.com. Os indicados da próxima semana já estão disponíveis para votação: Robinho, Dourado, Xuxa e Grazi Massafera. Não deixem de votar!

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Twitter do Cabeça Fresca

Os blogs Cabeça Fresca e Manda pro inferno ganharam mais uma ferramenta de interação com seus "milhares de leitores espalhados pelo mundo". Quem quiser saber sobre atualizações e pequenos "estalos" do blog é só seguir no twitter.com/cabeca_fresca. Valeu!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Separados na maternidade

Depois do descobrimento da fraternidade existente entre o Mentor (isso mesmo, do He-Man!) e o digníssimo senador dono de metade do Maranhão, Sarney, novos irmãos estão se reencontrando com a ajuda do Cabeça Fresca. Por perversão do destino, ou de alguma "Nazaré", os irmãos Capitão Nascimento e Nivea Stelmann foram separados na maternidade quando tinham ainda suas pequenas carinhas de joelho. As fotos falam por si só:

Se você tiver alguma notícia de um terceiro irmão desaparecido, de sexo desconhecido, ajude-nos divulgando as ações da Rede Fraternal de Busca de Irmãos Separados, lançada pelo blog Cabeça Fresca. Os créditos dessa descoberta terrivelmente magnanima são inteiramente do olhar clínico de Flavinha Rodrigues, a quem sou grato pela contribuição.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

NOVO BLOG: MANDA PRO INFERNO

Mais um absurdo surge na rede: o Blog Manda pro Inferno estreia em pleno fim do mês para exorcizar os capetas que pentelham nossa vida! Aquele homem público de mão leve, aquela personalidade mais vazia do que pau oco ou um anônimo filho-da-puta que te fechou no trânsito, sim! Esse é o canal para expulgar e mandar todos que nos deixam putos para o lugar que merecem: o fogo do purgatório. Afinal de contas, se inferno existir, deve ser tão cheio quanto praia de paulista. ACESSE E PARTICIPE: MANDA PRO INFERNO

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O menino do dedo amarelolelo

Em metro e meio de menino, Churisco, como assim gostava de ser chamado, era um rapazote nos auges de seus oito anos. No futebol era craque, na matemática era mediano e no carisma cem por cento. Mas havia uma pequena característica que o diferenciava dos colegas: seu dedo indicador da mão direita era amarelo. Ninguém comentava esse assunto, nem em casa, nem na escola, fazendo com que Churisco não se preocupasse com isso.
O tempo foi passando e o meninote ia crescendo... E o dedo? Bem... o dedo ia ficando cada vez mais amarelo. Na pré-adolescência, Churisco, com "vergonha do que as meninas poderiam pensar", passou a esconder sua mão no bolso. Foi a primeira vez que tivera que se preocupar com seu dedo amarelo. Pensou até em utilizar luvas, mas abandonou a ideia quando descobriu que um cantor já havia pensado nisso. Abstraiu pensamentos e seguiu em frente. A mão direita passou a ficar no bolso.
Certa manhã, como todas as manhãs, Chuvisco acorda, preguiçoso, cutuca o ouvido e se arrasta para o lavatório. Ao obsevar com mais cuidado uma espinha no canto do nariz, na tentativa de tentar espremer o corpo estranho, nota que seu já conhecido dedo amarelo não estava apenas amarelo: uma pequena raiz, uma espécie de caule, despontava em seu indicador direito como as ramificações do pueril feijão da 1º série. Entrou em desespero. Num impulso, abriu a portinhola do espelho em busca de uma tesoura. Não encontrou, tendo que se satisfazer com uma pequena gilete.
Fecha os olhos e sem pestanejar corta de vez a pequena rama do indicador. Sem sucesso, em poucos segundos uma nova ponta desabrochava em seu dedo-duro. Cortava, crescia, cortava, crescia. Não havia como dar um fim naquilo. Pensou até em suicídio, mas desistiu da ideia também.
O susto havia passado e, num momento de deslumbramento, retomou o fôlego e começou a pensar: "Até que para quem tinha um dedo amarelo e ninguém ligava, uma planta, flor, ou o quê quer que seja, não será nada demais". Churisco resolveu de uma vez por todas se esquecer de seu dedo amarelo, e agora, dedo-amarelo-árvore.
Seu dedo ficou cada vez mais amarelo com o passar do tempo e hoje, se você procurar por ele nas ruas da cidade, vai encontrá-lo lá: tranquilamente passeando com seu dedo amarelo, cada vez mais amarelo.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Dá só uma espiadinha...

O endemolizado globalmente conhecido "BBB" estreou esse ano sua 10º edição e muita coisa permanece a mesma: anônimos numa verborragia discursa da oportunidade em estar na TV, onde mais anônimos, o povo, - categoria que muitas vezes aparece como "Brasil" - decide em uma berlinda quem fica e quem sai do cenário.
Do mesmo modo, permanece, e isso poderiamos chamar de "essência" do programa, o bate-cabeça dos participantes que se degladiam na luta por um milhão e tantos de contos-de-réis ou, na pior das hipóteses, descolar algum trocado com uma fama que se esvaece num piscar de olhos.
Curiosamente, os jogadores se esquecem que estão confinados, talvez isso seria uma espécie de "psicopatologia do confinamento" e, é justamente aí, que os instintos humanos, ou animais, começam a entrar em ação: brigas por coisas miúdas como a escolha de um prato ou o "jeito" que cicrano te olhou no dia da maldita prova do líder!
Ratinhos na Caixa de Skinner: torturas televisionadas, se tiver play-per-view o lance é 24 horas, por uma coisa chamada "imunidade", "liderança" ou "que-porra-é-essa". E tá lá todo mundo com "um sonho" de ganhar a bolada, cada qual ajustando alianças, comprando briga ou simplesmente mostrando o quem realmente são. Ontem, por exemplo, uma loira pedia com olhos marejados sua pernanência na casa porque ela "não tinha ganhado nem um carro ainda". Gestos valem mais do que mil palavras.
Por outro lado, esquecemos de sair um pouco da crítica para observar num programa televisivo como este que num mar de cortes, closes e edições, o bicho humano é um troço bonito de se ver: contraditório, explosivo, filho-da-puta e sincero.
Eu ainda não consigo compreender os intelectuais e a Academia que viram as costas para um fenômeno televisivo como esse (vários milhões de votos no "paredões"). É, queira ou não queira, uma espécie de alto-de-justiça-popular onde os telespectadores afirmam, através do voto, determinado comportamento que a maioria aprova, claro, desconsiderando a tendenciosidade empreendida pela produção televisa, o modo como, através da reiteração, justaposição e foco de determinado contexto-personagem, evidencia uns e subtrai outros, mas "quem decide quem sai ou fica na casa, é você". E não é? Eu é que não duvido, se não, se eu tiver que dar um alô lá no purgatório, vou me deparar com o Biela declarando durante mil anos suas poesias de esgoto. Crê em deus padre!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Chichinha - a malinha

Chichinha era uma menina muito malinha. Vivia a meter o bedelho na vida alheia, tanto que, aos sete anos, contava fantásticas histórias do dia-a-dia dos vizinhos:

- A mulher do carteiro tá ficando com o cunhado da Marlene!
- Fala sério Chichinha, como é que tu sabe?
- Sei porque sei.

A pequena pochete foi crescendo, cada vez mais ligeira em sua missão. Missão, pois era assim que ela encarava a vida: alertar ao mundo seus princípios e filosofia de vida, onde ela criava uma atmosfera um tanto com a sua cara. Tais comportamentos eram mal compreendidos pelos seus amigos, fazendo com que Chichinha fosse alvo de inúmeras críticas. Ela não entendia porque os amiguinhos do pré choravam sem parar quando ela abria a boca. Deve ter aprendido a falar com quatro ou seis meses.
Era um caso sério. Sua habilidade em curiar o que não lhe dizia respeito aumentava conforme envelhecia, da adolescência à idade adulta, torturou, em suas palavras, "abriu o olho" - de centenas de pessoas: não há, da 5º série ao pós-doc, quem não há de se lembrar da famigerada Chichinha, a malinha. Procure em sua memória, você certamente lembrará da dita-cuja: aquela pessoa, sim, ela! que não só não escuta, mas fala, disputando um cinturão com o homem-da-cobra. Certa vez, cansado de meu ouvido-pinico que não me deixava dormir, arrisquei um milenar provérbio chinês:

- Chichinha, foda-se.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Admirável desenho animado


Esses dias estava vendo Snoopy e senti saudade dos tempos de mulecote: os penhascos são apenas assovios e as armas não deixam maior dano do que uma poeira preta no rosto. Um mundo surreal onde o Pica-Pau, com sua estadunidense penagem, faz coisas inusitadas como ficar de ponta-cabeça ou aparecer em mais de um lugar ao mesmo tempo. Divertido isso, não? Ai penso de como os pequenos devem se encantar com isso e, por outro lado, o quanto esses desenhos são carregados de sentido. Mas a tudo isso, devemos muito à nossa TV que, desde que me dou por gente, reprisa o mesmo Pernalonga, Popeye, Michey, Pato-Donald e todos mais que você lembrar. Graças a essa repetição, hoje consigo penceber muitas coisas que, quando crianças, nos deixavam fascinados.
Os desenhos animados, em dias que correm, veiculam outros planos ideológicos: esses dias, na fila do mercado, vi um menininho (menininho mesmo, pois devia ter 4 anos) vestido dos pés à cabeça do tal Ben 10. Depois, conheci um outro que de dez frases no auge de seus 3 anos de vida, 4 tinham ou 10 ou Ben no meio. Antigamente não tinhamos muito acesso a esse mundaréu de brinquedos e vestimentas licenciadas: ao invés disso, tinhamos o Jaspion, o Playmobil e suas intermináveis profissões (uma certa vez pensei: "o Playmobil imita a vida?"), um boneco dos "Comandos em Ação" e a cinquentona Barbie, firme em seu império, mas ocasionalmente abalado pelo poderio dos bebês bizzaros da Xuxa ou da Eliana - sem contar a interminável tiragem de bebês que choram, andam, patinam, etc, etc, etc). Antes se vendia elementos ideológicos oriundos da Guerra Fria, agora, sem ter o que combater, já que o capitalismo venceu(?), a mulecada compra o pacote ideológico da vida consumista, onde rosa é sinônimo de menina - onde devemos dar graças à ex-namorada do Ken, hoje, vendo seu reinado ser ameaçado por Polly - que tem site, desenho animado e, o melhor, um enorme shopping(!).

Mas para não ficar numa visão frakfurtiana da coisa, o desenho também subverte: o Homer com sua lata de Duff, Bob Esponja em seu mundo aquático ou os meninos politicamente incorretos do South Park. Se no mundo que nos configurou - o pós Segunda Guerra Mundial - o desenho animado era carregado da ideologia maniqueísta oriunda da Guerra Fria, nos dias de hoje, ele é posto cotidianamente nos aparelhos televisivos, assumindo diversos matizes, propostas e signos. Houve uma ampliação, tanto para faixas de desenvolvimento da criança quanto para vender produtos licenciados. Mundo confuso esse, não? Nessa contraditoriedade nos auges da economia de mercado, uma coisa é certa: os brinquedos, tanto os do camelô quanto os das lojas dos shoppings, foram fabricados por um anônimo chinês a 30 cents a peça. Tá tudo integrado: a grana, o mercado e a merda.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A modelo


O mundo fashion também pega busão. Outro dia, andando no coletivo, me deparei com uma figura um tanto, digamos, caricata: uma jovem modelo terrivelmente perdida sem saber o local de seu casting. Podemos dizer que ela destoava do ambiente barulhento e tulmutuado do transporte de massas. Com seu book em punhos, sua maquiagem para o dia e seus finíssimos saltinhos de cristal, ia a modelete a caminho de mais uma prova de roupas. Imaginei, pelas suas caras e bocas, o quanto deveria ser complicado lidar com um ser desse nipe: o fotógrafo tentando o melhor ângulo enquanto a estrela da vez aproveita seus minutos de vaidade para uma propaganda das lojas "ZYZ". Não devia ter mais que dezesseis anos, mas já predominava a garota fantástica que ela buscava em seu intimo.

Toca o telefone, voz de frescura:

- Aloooô, Pri? Tô chegando, é que me atrasei com a maquiagem...

Engraçado é que quando ela chegar em seu destino, com certeza, irão fazer novamente sua maquiagem conforme manda o figurino. Mas elas estão lá, todas "bonitinhas" e "cheirosinhas". Como diria a legítima música popular: "cada um no seu quadrado".
Acho chato essa assimetria de rostos. Olhei para a menininha (não sei aonde ela queria chegar, mas seus 1,60 m não eram disfarçados pelo saltinho de cristal) e notei o quanto seria árdua sua empreitada de ser famosa. Mas um inshigt me atingiu como um raio: quando ela chegar aos cinquentinha, lembrará com tristeza (igual a Liliam Cabral na novela do Maneco-de-bem-com-a-vida) os áureos tempos de modelete, e talvez, perceba que mais interessante seria canelar um papel de coadjunvante-rostinho-rosado nas noveletas da Record (ou, se der sorte, da Grande-Mãe-Globo-de-Televisão) do que se aventurar no famigerado mundo da moda. Como diria Jesus: "dai a César o que é de César" e que deus tenha piedade de todos nós.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O muro ou a liberdade televisionada

É curioso o modo como estão se dando as "comemorações" da Queda do Muro de Berlim, que hoje, 9 de novembro, completa vinte anos que o paredão de concreto construído pela RDA ruíu como que nem dominó. Vendo os notíciários, pelo menos aqui no Brasil, deparei-me com algumas frases de efeito dos jornalistas:

"Há 20 anos atrás caia o muro da intolerância para dar espaço para a liberdade" - Bom dia Brasil, Globo.

"O Muro simboliza o fim do terror e o começo de uma nova era" - Record Notícias, Record.

"A construção de um sonho de liberdade com a queda da barreira comunista" - Jornal do SBT, SBT.

"O Muro de Berlim caiu e marcou o fim do século XX" - Jornal da Cultura, TV Cultura.

Dentre essas e outras, fiquei com meus botões discutindo, martelando a cabeça com esses marcos, essas frases, esses gestos que denotam um pepino ruim de descascar. Que pepino é esse?
O pepino é uma extrema tendência de sinalizar aos leitores o único lado da história: triunfo do capitalismo sobre o socialismo, ou no que quiserem chamar esses sistemas de governo. Curioso também é a transformação de um "comunista comedor de criancinhas", segundo a propaganda estadunidense da Guerra Fria, em herói: Gorbachov. O homem da mancha preta na careca, hoje, transformou-se no defensor da "liberdade" e do diálogo. Mais curioso ainda é o modo como a mídia está pintando o quadro da Guerra Fria: segundo eles, ela só terminou por causa do fim do "comunismo" (como se para haver conflitos, não houvesse necessidade de ter dois lados brigando por interesses opostos).
É aí que o buraco é mais embaixo: comemora-se. A mídia comemora o triunfo da liberdade (ou do país que nos USA?) como sinônimo de paz e harmonia. Mais o quê? Vamos aos fatos:

1 - Ninguém tá falando porra nenhuma sobre o murão que Israel está construíndo em torno da Cisjordânia.

2 - Nem se fala do muro, econômico, imposto à Cuba pelos EUA até agora.

3 - Muito menos queremos saber da porrada de Afegãos que morrem todos os dias com a ocupação estadunidense naquele país, e Obama tá mandando mais gente pra lá. Se isso não for um muro, eu preciso rever meus conceitos de construção civil.

4 - Você acha que nos preocupamos com barreiras sociais que impomos nos semáforos das cidades aos meninos-querôs que tentam limpar o seu parabrisa?

5 - E o que falar dos bloqueios que existem nas relações humanas numa "modernidade tardia" tão egoísta e cheia de dedos? E não se fala mais nisso.

Poderia escrever alguns bons 95 tópicos, que nem o Lutero, mas isso aqui é um blog e, como diria os especialistas em comunicação, "menos é mais".
O que intriga não é rememorar um episódio que foi possível graças à vontade de milhares de pessoas que comemoravam como que num ano novo a derrubada de um muro que separava não só as pessoas, mas modos de vida, não. E muito menos que esse processo de unificação das Alemanhas tenha sido desencadeado por um porta-voz do partido comunista que estava de férias e, numa coletiva, em vez de anunciar a liberação gradual de vistos à Alemanha Ocidental, acabou, no final da entrevista, adiantando para os jornalistas que as mudanças iriam ocorrer imediatamente. Não, nada disso intriga.
Mas intriga o modo como a mídia de modo geral, e uma mídia comprometida com o sistema de mercado voraz, coloca ao leitor, ainda mais para os que não viram o Pedro Biela atrás do muro com sua gravatinha fininha anunciando no Fantástico a queda da muralha, a representação dessa parede de concreto. Ela representa mais. Representa a solidificação do conceito de liberdade com liberdade de consumo, liberdade de competir, liberdade de se comer. Podem até me chamar de comunista enrustido, coisa que abomino, mas não poderão me chamar de tapado. Como diria uma propaganda de um símbolo do capitalismo da Guerra Fria, as calças Levis: "A liberdade é uma calça azul desbotada".

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Borracha

Borracha era pequeno, mirrado, com cara de infeliz. Parecia infeliz, mas era só um disfarce. Começou a andar pelas ruas como quem não quer nada, olhando, inferindo, metendo o bedelho. Acontecia qualquer coisa na rua do pilintra e lá tava ele: de assassinato de traficante a mendigo que morre de frio, briga de casais até o mais discreto escarro do motorista de caminhão. Tudo era de seu conhecimento. Aprendera com as pauladas da vida a observar. Ser espectador dessa coisa toda que é o cotidiano.
Borracha não tinha amigos. Quer dizer: tinha, mas não eram "amigos". Ele se relacionava com o outro de um jeito muito peculiar: dava uma passada de olho de baixo a riba e sabia em quem podia confiar. No boeiro, a coisa fica mais preta quando se está sozinho. Juntos, ou em uma encardida matilha, conseguem se previnirem contra as porradas dos meganhas, o frio de fudê nos meses de julho e a investida dos pedófilos que não marcam toca. Viver é fácil, a merda é sobreviver.
Borracha passava os seus dias caminhando pelo centro. Uma vez até conseguiu um trabalho, mas não deu muito certo. O dono de um lava-rápido havia lhe oferecido um conto por cada carro lavado. Foi na segunda, na terça, na quarta faltou e na quinta nem passava mais pela sua cabeça de voltar até lá: "ganho mais não fazendo nada".
Borracha num belo dia encontrou sua sorte: havia arranhado o carro de um delegado por causa que o mesmo lhe recusara um trocado. Não teve outra, na noite seguinte uma renca de viaturas baixaram na rua do pilintra. Tinha mais luizinhas azuis e vermelhas do que a escuridão da bocada. Deram geral, queimaram cobertor, cobriram de porrada muleque marrento: "cadê o pequenininho? Fala porra!". Nem um piu. Procurou, procurou até encontrar o Borracha escondido no bueiro: "Achei!", anunciou o cabo Ferrazo. Levantaram a boca-de-lobo e tiraram o muleque num puxão só. Os carros foram embora, as sirenes, a rua escureceu novamente.
Na manhã seguinte, o comércio abria para mais um dia de compras. Os moleques, doloridos, levantavam com sofreguidão aos trancos dos empregados enxotando-os com suas vassouras. Era um dia qualquer, como todos os outros dias quaisquer.
Borracha nesse dia não acordou, não perambulou pela rua, não pediu dinheiro, muito menos observou o que acontecia em todo puto-dia. Como que um rabisco, apagaram-o do cenário da cidade.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Concursandos...

Domingo pela manhã os pontos de ônibus estão cheios. Estranho. Em São Paulo sempre está cheio, menos nos domingos. Até parece dia de eleição. Muitos estão se deslocando para definirem suas carreiras profissionais, a chamada estabilidade. Dia de concurso é assim: um monte de gente se deslocando para realizar uma prova que não prova nada. Engraçado: nessas sitações que você conhece alguns Typus Concursanduns: Numa pegada Taxonomia, Lineu, o naturalista¹, classificaria assim:
O ansioso. Sujeito inseguro que está até o último minuto restante lendo e revendo em seu caderninho o conteúdo das provas. Uma dor de barriga durante a execução da mesma é fatal para deixá-lo em desvantagem aos concorrentes.
Mamãe, estudei tudo. Ah sim. Esses são os típicos: sempre acompanhados dos ansiosos, ele destila sua aquisição de informações (que nem sempre se transforma em conhecimento), tais como a tendência das questões em concursos anteriores, quantidade de vagas, entre-linhas do edital etc etc infinitun.
Desencanado. Maioria esmagadora no total de inscritos. Todos os que, por um motivo ou outro, leram alguns capítulos do edital (vagas, remuneração, horas de trabalho etc), pagaram o boleto e acordaram domingo cedinho para fazer a prova. Esse tipo não estuda, nem pensa na possibilidade de passar, mas mesmo assim vai.
Religioso. Já ouvi relatos de luzes piscando nas alternativas corretas. Falaram que foi "Deus", ok. Mas esse tipo pode ser confundido com o Desencanado, todavia, há nuanças entre eles: o Religioso crê que sua fé é o bastante e que o importante não é se preparar, e sim, acreditar que "Deus" irá "iluminar sua mente" na hora do vamo ver.
Glutão. Tensão se alivia com calorias. Sempre fiquei curioso o quanto a indústria de barrinhas, chocolates, água mineral e demais apetrechos lucra na leva de concursos e vestibulares existentes. Nas Fodests da vida, houve relatos de pessoas que faziam refeições durante a maratona de palavras. O barulhinho da latinha de refrigerante é música de câmara diante do silêncio mortal à espera dos cadernos de questões.
Ramelão. Geralmente a turma que chega atrasada no concurso. Embora trágico, há nesse candidato uma leve dose de comicidade. 10, 20 e até 30 minutos após o fechamento dos portões, eles pulam do coletivo, quase se espatifam no chão correndo em direção ao local de prova. Triste isso. Mas não adianta chavecar o guarda que ele não abre a porteira.
Auto-ajudado. Sei que essa nomenclatura pode num primeiro momento parecer deselegante, mas uma pessoa concordaria comigo: William Douglas - o mestre dos concursos². É o tipo que acredita que irá passar por ter cumprido "os dez mandamentos do concursando". Leitores de auto-ajuda, acreditam em sua força interior, sua gana e dedicação. Confesso que tenho medo deles.
Dentre tantas figuras que povoam as ruas em domingos de manhã, o que tenho a dizer é: Cada um por si e deus contra todos.

¹ Carl Von Linné. Naturalista, Médico, Botânico e Zoólogo sueco do século XVIII. Criador da nomenclatura binominal e considerado "pai" da taxionomia moderna. Lineu, como é conhecido aqui no Brasil, só pensava em classificar, classificar e classificar. Esse doido montou um jardim botânico enorme com espécimes roubadas dos quatro cantos do mundo.
² William Douglas. Jurista, escritor e mestre dos concursos. Autor do livro Como passar em concursos públicos. O cara pesava 120 quilos e hoje é um grisalho sarado. Vende uma auto-ajuda de banca de jornal e, por sinal, ganha muito dinheiro.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Medo Líquido

Apertei a mão do sujeito e notei o quanto estavam melecada suas linhas da vida: acabara de usar o "álcool em gel". Em tempos de epidemia vale-tudo para não ser o infectado da vez. Nitído é o medo (talvez "líquido" Bauman?), o pavor e o olhar fulminante contra os gripados. Certo dia, cidadão portando máscara de pano entra no coletivo com cara de exausto. Embora a super-lotação do vagão, consegue um espaço bem amplo e ventilado. Alguns pulam da estação com medo de que o mascarado espirre contra a multidão indefesa. Mães apavoradas cobrem os rostos das crianças com medo de uma possível contaminação. O medo impera! E, não tirando o meu cavalinho da chuva, a coisa ainda não acabou: embora a queda no número de mortos, o Brasil figura o 1º lugar e 7º em taxa de mortalidade por gripe suína. Ministério da Saúde declara guerra à Gripe Suína, manchete de jornal marrom.
Repostagens, cadernos especiais, cartilhas, memorandos, teses de doutorado levam a informação ao leitor desavisado sobre os perigos desse mal sagaz. Dentre tantas coisas, umas elucidativas e outras nem tanto, caiu em minhas mãos uma cartilha sobre como se prevenir do Influenza. Na capa, de papel couchê, estampava um simpático leitão espirando bem forte (Atchiiiiim)! Poderia ser trágico, mas foi cômico. Fico pensando no insight do responsável por essa obra de arte.
Na vida capitalista não é diferente: queda nas bolsas combinada com recessão econômica. A única coisa que aumentou foram as vendas de Tamiflu, Álcool em Gel, Máscaras de Pano e demais armamentos de guerra. À boca pequena, e em tempos de crise ela fica escancarada, dizem as más línguas que o vírus foi até invenção da Roche, indústria farmaceútica, com o "governo americano". Não posso afirmar nada, mas ouvi falar.
Com um olho aqui e outro lá atrás, sem cometer anacronismos (certo Bloch?), penso nas imenssas pandemias, epidemias e gato-mias que o bicho humano passou. A peste negra, divertidamente pintada por Monicelli em O incrível exército de Brancaleone, foi a mais conhecida, e duradoura, das epidemias da história, mas não a única: só a Varíola, importada pelos colonizadores espanhóis, matou uma renca no México. Outra gripe, a espanhola, dizimou 20 milhões no início do século XX. Os pequenos invasores, numa perspectiva bem BBC, são aos trilhões e, que nos acuda, não tem dó e nem piedade.
De todo modo, fico na dúvida agora quando vou dar um aperto de mão no próximo pois nunca sei o que realmente estou apertando: se álcool em gel ou o próprio coisa-ruim do tal H1N1.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Getúlio me disse...

Ontem tive um sonho: trocava algumas ideias com, nada mais nada menos, o Sr. Getúlio Vargas. O baixinho reclamava da angústia de passar seu aniversário de morte tão triste e sozinho. Resmungou e ficou putíssimo com o uso de sua imagem pelos partidos e, mais ainda, com o desperdício feito de sua memória pelos historiadores, que desmascararam, e nem precisava, seu sorriso maroto e largo. Dito isso notei que sua voz embargara-se. Engoliu seco e balançou a cabeça com desgosto.
Tentei consolá-lo. Falei o quanto ele era ainda o "pai dos pobres" e que sobrou alguns poucos políticos que sentiam sua falta, seu braço forte. Nem adiantou. Estava decidido a se ausentar de suas aparições na terra dos vivos. Iria entrar no anonimato. Questionei-o que em tempos de internet era impossível, que ele já estava na rede e em tudo quanto era enciclopédia e livro didático de história. Relutou, disse o quanto não gostava disso, tentou explicar o que o levou a escrever uma carta e disparar contra o peito. Arrependera-se, na verdade. Escutando isso, foi a deixa:
- Já que tocaras no assunto, mas porque que é que você deu um tiro no coração? Não demorou para morrer? - Questionei o espectro.
- Zaz! Sabia que iria perguntar isso!
- Poxa, essa é uma oportunidade única, vai saber se o verei novamente...
- Tá, tá. É simples - prosseguiu com calma - é que para que o meu suicídio fosse o mais simbólico possível , eu tinha que tá bonito no caixão... Você por acaso queria que eu desse um tiro nos cornos?
- É, pensando por esse lado você tem razão...
- Pois é. Eu sabia que a coisa estava ficando feia para o meu lado, afinal de contas, eu morei no Catete por 15 longos anos! Tinha gente que não queria me ver lá de novo nem pintado a ouro! Aí, não aguentei mais ficar em São Borja. Precisava de calor e gente bonita. Não deu outra: juntei os "queremistas" e mais todo o populacho e mandei bem na eleição.
- Mas você deu pra trás depois... Não aguentou o rojão e achou um jeito bem bizarro para "sair da vida e entrar na história"...
- Bá Tche?! Tu num acha que não funcionou? Você mesmo disse aquela história da internet...
- Tô sabendo... Já sei! Vou postar essa conversa assim que eu acordar! Aí pode soar como um manifesto, ou algo assim...
- Guri! Só não vai queimar o meu filme!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Teimoso que nem César

As vezes me questiono sobre as características das pessoas: rabujentos, trapaceiros, malandros, manés, contestadores, bundas de tico-tico, arrogantes, figuras de pessoa, curiosos, maleáveis, teimosos... Multiplicidade. Acho que resume.
Por outro lado, quando converso com meus amigos sobre características astrológicas-metafísicas (direto e reto: signo), martela-me na cachola o que poderia ser eu nessa imensidão de humores.
Foi aí que descobri Gaius Julius Caesar, o imperador, mais conhecido por Júlio César, ou só César mesmo. Governante que rachava seu poder com um triunvirato, viveu e teimou no 100 a.C. com uma maestria tamanha. Só para se ter uma idéia, ele tinha um discurso marcado no senado no dia 15 de março de 44 a.C., pois no dia segunte, iria conduzir suas tropas para uma batalha de conquista. Os conspiradores, segundo a já conhecida história de Plutarco, tinham que decidir logo o cerco contra César, pois com uma banca de soldados ao seu redor, seria osso matar o dito-cujo. É aqui que começa a teimosia:

* Um adivinho lhe disse para não ir no senado aquele dia, cabeça-dura como ele, foi;
* Sua esposa, Cornélia Cinnila, falou para ele não colar no senado, pois tivera sonhos premonitórios horríveis, mas mesmo assim, ele foi;
* César sentiu-se mal no dia 15 de março, mas teve a brilhante ideia de que "se saísse de casa iria sentir-se melhor". Foi ao Senatus;

Por essas e outras, logo pensei: poxa, sempre falam que os taurinos são teimosos como uma mula, e César? Ele não. César era canceriano, nasceu no 13 de julho. Nessa lembrei de todas as conversas astrológicas-metafísicas com os companheiros de balela: leoninos, piscianos, taurinos, cancerianos, geminianos, capricornianos, escorpianos, virginianos, aquarianos... todos! Essa algazarra de gente com suas características particulares e coletivas.
É. O bicho humano é um troço complicado. Mas pelo menos aprendi com a história de Gaius uma lição e, como "moral da história", se existisse, tive até uma ideia de um ditado novo: teimoso que nem César.