quarta-feira, 22 de julho de 2009

O velho tocador de pífano - Capítulo 2


O velho tinha uma velha. Essa era menos dada do que ele: carrancuda, juízo ruim, cabeça-dura. Casados a mais anos do que o tempo do ronca, viviam numa casinha em um sítio nos arredores de Pau-D’Alho. O saldo dessa história de amor: 18 filhos, 4 mortos e um maluco. Para dar o que comer aos coitados, dividiam 4 ovos cozidos em 14 bandas. Para completar a mistura, farinha no prato com feijão andu. E olha que a culinária era exótica para nós citadinos: farinha com melancia, farinha com quiabo, farinha com feijão, farinha com... Parece que tudo ia farinha.
Se a velha era marrenta, o velho não ficava atrás: só comia se a velha colocasse comida no prato. Poderia passar horas a fio esperando um bocado de atenção. Sim, viviam numa contenda que só nordestino entende. Brigavam, chamegavam, odiavam, amavam e enlouqueciam, tudo isso ao mesmo tempo. Penso que a pós-moderna “D.R.” não era coisa que se fazia nos tempos do velho. Cada um batia seu prego, cada qual em seu canto. Se um titubeasse com o outro, toma lá paulada, eita agonia da cebola!

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