sábado, 21 de junho de 2008

A contra-mão é o melhor caminho

Atravessar a rua tem se tornado uma tarefa um tanto complicada em São Paulo e em qualquer cidade brasileira: o reinado das máquinas-bebedoras-de-petróleo prevalece na metrópole. 11.497 unidades desses monstrinhos foram entregues às ruas só no mês de maio de 2008. Isso nos dá uma idéia da dimensão da merda: motoristas filhos-de-uma-grandíssima-puta, trânsito, barulho e muita, mas muita sujeira. Quantos petrodoláres estão ganhando os velhotes donos desses impérios? Não temos ideia, são muitos números antes da vírgula (mas tudo bem! O Brasil descobriu novas fossas para nos atolarmos mais no buraco. Chamam isso de "auto suficiente"). E o pedestre? Que se lasque. Como diria um amigo meu: "me sinto nu ao andar nas ruas". Tempos depois entendi o que ele quis dizer... na verdade, os motoristas estão protegidos por uma imensa caixa de ferro (1 ou 2 toneladas) e nós, meros mortais, ficamos com nossos ossos prontos para serem esmagados.
A pior parte da história, no capítulo "atravessando a rua", é que vivemos em um mundo de daltônicos: os homens dentro de suas caixas ambulantes de aço não sabem distinguir sinal vermelho de sinal verde. Me intriga essa doença coletiva, pois, afinal de contas, a bolinha vermelha fica em cima, a amarela abaixo e a verde por último. É fácil, mas não! Eles insistem em acelerar cada vez mais, principalmente se o amarelo aparecer. Aí, paro e penso: "para que merda de lugar eles lunáticos vão com tanta pressa?". Se inferno existir, esses vão ter que passar mil anos no purgatório só porque não viram a velhinha na faixa de pedestre. Em Abbey Road, os Beatles que se cuidem!

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Mãos Atadas

Sentir-se de mãos atadas é uma sensação um tanto torturante. Parece "clichê", mas não é. Oscar Wide escreveria sobre isso, Bukowski contaria uma anedota (relacionada ao sexo, é claro) e Clarice Lispector falaria de como a mulher se encontra com os punhos cerrados (numa sociedade machista e alucinada).
"O que fazer?" - Pergunta cretina! Aposto que os escravos negros do Brasil Colônia se perguntavam sobre isso o tempo todo: veio a "abolição" e continuaram perguntando o mesmo. Sinto "vergonha alheia" da situação desse meu Brasil. Como diria Celso Blues Boy: "Agora chora guitarra, se lamente por mim"...
Estamos aí: chorando, gritando, berrando e sorrindo. Na boca de um amigo meu: "Tamo aí mandando brasa". Eita confusão dos infernos!

domingo, 20 de abril de 2008

Academia nossa de cada dia...

Litros e mais litros de suor... Ela pingava como um lutador de sumô... Fiquei assustado com a presença de tantos líquidos. Perguntei a mim mesmo: É possível? E ela estava lá, suando no elíptico, como se quisesse chegar a algum lugar. Jesus Cristo! Ela poderia sanar a seca do nordeste! Todos os domingos marcava presença: uma toalha que não dava conta do recado, uma garrafa de 600 ml de coca-cola, possivelmente ela já havia tomado antes de entrar na academia, e um aspecto de fim de churrascaria. Esses tipos são comuns em academias, mas há outras variações: o malhadinho, a loira gostosa, a dona de casa, o idoso, a senhorinha que tanto faz como tanto fez (15 calorias por hora), a séria (está todos os dias na academia de corpo e alma), profissionais liberais e os que correm maratonas. Todos, todos eles, procuram chegar a algum lugar, mas a singela tentação de uma sobremesa, coloca todo o trabalho a perder. Ainda há os instrutores... alguns gordos (se a "propaganda é alma do negócio", eles estão fudidos...), outros magrelos, malhados, acima do peso, enfim... Ficam olhando para cada exercício errado que você faz, mas, se engana o caro leitor, eles não irão te orientar! De qualquer forma, seguimos correndo na esteira. Os pesos já pedem mais e mais. Aí escuto uma frase de incentivo: "Vaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiii!!! Eu quero ver dooooor!" - Já dizia um antigo professor de malhação. Qual é o corpo ideal? Definir ou Bombar? Eis a questão! A corrida para o corpo perfeito não pára por aqui: plásticas em 36x sem juros, uma puchadinha aqui, outra ali... no mesmo dia você sai do hospital! O cúmulo disso tudo é o malhado-sedentário: vai de casa até a "pista" (geralmente a USP ou avenidas arborizadas) de carro, tira sua "bike" de $$$$$$$$ e começa a correr como se estivesse em um autódromo. Vida loca! São Paulo-sem-noção! Jesus, parafrasiando sua sabedoria, diria nos tempos de hoje: "Diga como tu malhas e direis quem és!".

sexta-feira, 7 de março de 2008

O que foi o que eu vi...

Sempre gostei de ler no coletivo. Acho que é um gosto causado à força... para passar na merda do vestibular, meu trajeto (e cotidiano) era mais ou menos assim: 15 minutos até a estação de trem, 5 ou às vezes 25 minutos para esperar a locomotiva, senta ou fica em pé, 30 minutos de caminho, desce, espera outro trem (chamam isso de baldiação - nome mais estranho para por em "purgatório"), senta ou fica em pé, 30 minutos de trilhos, desce, anda 12 minutos até o ponto de van, chega a Van (com os cobradores declamando ou muitas vezes cantando o itinerário), senta, pois as locações são pequenas, pelo menos nessa época, desce no ponto, sobe uma ladeira que parece mais o caminho para o céu e finalmente toca a campainha e o porteiro diz "bom dia".
Puta-que-o-pariu! Esse palavrão (literalmente) é muito ínfimo para expressar o que passei para ir ao trabalho. E olha... eu nem contei a volta.
Foi assim que comecei a ler nos coletivos. Se conto isso, as pessoas dizem as mais variadas coisas:

- Vai descolar sua retina!
- Como você consegue? Eu não consigo!
- Caralho! Eu num leio nem parado...
- Tu é mentiroso pra cacete!

Mas fazer o quê? Eu escuto tudo isso, mas continuo lendo... E o som do deslizar do trem nos trilhos, a propaganda do camelô, o aviso da estação ("Estação Pinheiros... os assentos indicados são de uso preferencial, respeite esse direito") e o balançar do coletivo não me afligem. Parece que sou levado por esse vício. Engraçado que com a invensão dos MP3s, as pessoas ficam mechendo a boca como que quizessem dar um pulo do banco e começar a dançar.
Mas isso não acaba aqui! Não... o desejo se estende aos mais balangadores ônibus... O busão tem características diferentes do trem. Nele a leitura é um pouco diferente: como não há camelôs, acabo escutando as conversas (que não é agradável)... merda, não vale nem dizer.
Mas numa dessas leituras, estava eu com os olhos no parágrafo, quando o rádio fala "olha os cavalo-de-aço! Tá na Ponte! Corta! Quebra a João Dias se não você vaio se fudê!". Olhei para trás e tinha uns trocentos meganhas vindo de motoca atrás da lotação. O motorista, desesperado, tentou entrar na contra mão, em pleno sinal vermelho da Giovanni Gronchi. Nem deu tempo, o polícia mandou todo mundo descer e sair fora: "Vai, desce todo mundo!"
Depois chamei esse episódio de "Cavalo-de-Aço"... Nesses tempos, difíceis por sinal, os perueiros viviam a fugir dos homens... Aí veio a Martinha e começou a legalizar, num sei se deu certo, mas agora chamam eles de "cooperados". Bom, aí o buraco é mais embaixo.
E olha que ler em situações extremas causa algum tipo de êxtase. Não sei explicar, mas é.

segunda-feira, 3 de março de 2008

No meio do caminho tinha um cachorro

No meio do caminho havia um cachorro,
Ele olhou para mim, eu olhei para ele
(Minha mãe já dizia: "nunca olhe
nos olhos de um cão").
Mero erro: o latido procede a mordida,
ou será o contrário?
Os olhos faíscavam, a saliva era evidente
Correr para cima de uma árvore, ou
um pinote para ele não me pegar?
Ah, mundo cão! Olha só os chiuauas!
Dentro das bolsas, fazendo caras de paisagem...
Olha só os Pitbulis: babando sem parar por
causa de um pneu. Ah, mundo cão!
Dos viralatas nem se fala: o vidinha da porra!
Dobermens: a raça criada pelo Reich, que medo!
Mas nada se compara aos pastores, pregam sua seita
como se fossem deuses (você já foi convertido por um?)
Nada que possa me deixar mais irritado do que o latido
de um poodleee, esse sim, apesar do seu tamanho,
é membro permanente da inteligentisia, os einsteins caninos.
Ah mundo cão! Petshops que me mordam!