quarta-feira, 22 de julho de 2009

O velho tocador de pífano - Capítulo 4


Diz o velho que rixa arrumada é rixa feita. Se um tem que morrer, morre e Deus tem piedade dele só depois do purgatório. Dentre tantas desavenças, as de família são as mais sanguinárias. Uma forma de resolver a questão era a briga de foice: as partes em conflito amaravam uma camisa na outra e, munidos de foices, facas, peixeiras ou o que estiver ao alcance, se esfolavam até um ou outro cair no chão. Furar o bucho era o objetivo da briga. Essa contenda era motivo de muita falação nos arredores de Pau-D`Alho. Outra rixa muito comum nessas terras era o orgulho ferido de uma família: tias, avós, sobrinhos e irmãos se pegavam no tapa e não tinha filho de Deus que desgrudava os brigões. Numa dessas, a Tia para se vingar do irmão que tomou suas terras, mandou o filho ir matar o tio. Mas a mulher era tão coração de pedra que, não contente, mandou que o sobrinho trouxesse a orelha do irmão como prova de sua morte. Dito e feito: dia seguinte, o sobrinho traz a orelha decepada. Tia, sem titubear, como num ritual antropofágico, come a orelha do irmão com farinha.


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