segunda-feira, 6 de julho de 2009

7 dicas para sobreviver em um ônibus lotado

Uma das grandes coisas que aprendi com mamãe foi a de andar de ônibus. Com o tempo, fui adquirindo prática, muito útil em vésperas de feriado em São Paulo ou horários de pico nos dias de labuta, coisa que, se tivesse me dedicado mais, poderia até dar aulas de "defesa pessoal no coletivo". Eis algumas estratagemas que a experiência me proporcionou:

  1. Ao entrar, dê um jeito de ir o mais próximo possível da porta. No entanto, não faça o papel do "folgado da porta": aquele doido que sempre quer ficar dependurado nos degraus, mesmo com o ônibus vazio;
  2. Quando ver que não há lugar para por o pé, lembresse dos tempos de menino, quando os colegas pisavam sem dó o tênis novo do amigo. Isso se chamava "estrear". Ajuda muito para abrir caminho na imensidão de bundas, pernas e pés;
  3. Uma distração a mais é abrir um livro, ou, melhor ainda, um jornal: sempre haverá um parceiro-leitor disposto a ceder espaço à página A3 em troca de uma notícia sobre o timão, ou mesmo para ler a capa, já que todos querem ficar informados;
  4. Pedir licença sempre é o melhor recurso. Muitas vezes a pessoa tá puta da vida porque você quer passar, mas um "com licença" auxilia a dechavar a raiva que ele sente por você. Encoxe, aperte, acotovele, mas sempre seja educado;
  5. Se houver alguma situação em que você precise se defender, utilize o famoso "o ônibus está fazendo a curva", ou mesmo, faça aquela cara feia de que não tá gostando muito do motorista e a culpa é toda dele pela lombada não avistada. Converse com desconhecidos, eles terão a mesma idéia sobre a projenitora do condutor;
  6. Caso haver um engraçadinho com um mp2000 - sei lá, a cada dia há tantos novos - com o som alto e sem a menor noção da existência dos fones de ouvido, começe a cantar desafinadamente a música que o indivíduo está forçando o coletivo escutar - por isso colocou em volume tão desgraçadamente alto - com certeza ele irá desligar.
  7. Sempre haverá duas ou mais pessoas que conversam pra caralho como se estivessem na cozinha de casa. Esses indivíduos acham que, como o moleque do mp2520, todos deverão estar a par do assunto do trabalho, da chefe filha-de-uma-puta, do esposo folgado e bebum, da cunhada assanhada etc etc etc. Nesse caso, você poderá optar por duas atitudes: comece a dar risada sozinho, fingindo achar graça no assunto delas, mas olhando de vez em quando para os interlocutores anônimos; ou, mais sarcasticamente, entre na conversa! Dê um exemplo que como o seu patrão é mais filho-de-uma-égua, que sua cunhada é mais vaca do que todas juntas, de que sua conta de luz à meses que não é paga, que seu gato é caolho e seu cachorro tem hanseniáse. Se isso não resolver, comece a bater a cabeça na parede pedindo que "as vozes cessem de falar!".
Se caso tudo isso não ajudar, sinto muito: te lascaste por inteiro, pois ônibus vazio, só em feriado e olhe lá. Fazer o quê... Como diria um personagem de "Cronicamente Inviável", numa cena de um busão lotado: "a gente gosta de se fuder, e gosta de se fuder juntinho".

3 comentários:

Fabio disse...

hahahahha...Vandre, e nos dias de chuva, quando as janelas estao fechadas...?

Vandré disse...

Pois é meu caro. Nesses dias, a coisa piora. Preciso fazer o item 8.
Abraço!
Vandré

Anônimo disse...

Nosso DAMA-DO-LOTAÇÃO misturado com com Masquês de Sade e Vidas Secas de cada dia...E haja suor e secreções milimétricamente democráticas...É isso aí,pobre sofre,mas tb goza...É possível goze mais que os ricos,já que esses coitados estão presos em seus mundos cartesianos...Como já dizia o sábio filófo:cada um no seu quadrado(merdamodernamentecapitalista)...Baci...Curti muito as crônicas do absurdo...