terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O menino do dedo amarelolelo

Em metro e meio de menino, Churisco, como assim gostava de ser chamado, era um rapazote nos auges de seus oito anos. No futebol era craque, na matemática era mediano e no carisma cem por cento. Mas havia uma pequena característica que o diferenciava dos colegas: seu dedo indicador da mão direita era amarelo. Ninguém comentava esse assunto, nem em casa, nem na escola, fazendo com que Churisco não se preocupasse com isso.
O tempo foi passando e o meninote ia crescendo... E o dedo? Bem... o dedo ia ficando cada vez mais amarelo. Na pré-adolescência, Churisco, com "vergonha do que as meninas poderiam pensar", passou a esconder sua mão no bolso. Foi a primeira vez que tivera que se preocupar com seu dedo amarelo. Pensou até em utilizar luvas, mas abandonou a ideia quando descobriu que um cantor já havia pensado nisso. Abstraiu pensamentos e seguiu em frente. A mão direita passou a ficar no bolso.
Certa manhã, como todas as manhãs, Chuvisco acorda, preguiçoso, cutuca o ouvido e se arrasta para o lavatório. Ao obsevar com mais cuidado uma espinha no canto do nariz, na tentativa de tentar espremer o corpo estranho, nota que seu já conhecido dedo amarelo não estava apenas amarelo: uma pequena raiz, uma espécie de caule, despontava em seu indicador direito como as ramificações do pueril feijão da 1º série. Entrou em desespero. Num impulso, abriu a portinhola do espelho em busca de uma tesoura. Não encontrou, tendo que se satisfazer com uma pequena gilete.
Fecha os olhos e sem pestanejar corta de vez a pequena rama do indicador. Sem sucesso, em poucos segundos uma nova ponta desabrochava em seu dedo-duro. Cortava, crescia, cortava, crescia. Não havia como dar um fim naquilo. Pensou até em suicídio, mas desistiu da ideia também.
O susto havia passado e, num momento de deslumbramento, retomou o fôlego e começou a pensar: "Até que para quem tinha um dedo amarelo e ninguém ligava, uma planta, flor, ou o quê quer que seja, não será nada demais". Churisco resolveu de uma vez por todas se esquecer de seu dedo amarelo, e agora, dedo-amarelo-árvore.
Seu dedo ficou cada vez mais amarelo com o passar do tempo e hoje, se você procurar por ele nas ruas da cidade, vai encontrá-lo lá: tranquilamente passeando com seu dedo amarelo, cada vez mais amarelo.

2 comentários: